Perguntas e Respostas sobre o Transe Hipnótico

Perguntas e Respostas sobre o Transe Hipnótico

Samej Spenser
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O que é um transe hipnótico?

Um “transe” é uma condição mental-física de uma modificação neurológica temporária, provocada pela estimulação do sistema nervoso simpático ou parassimpático.

Um transe não é um estado de “coma”, de “sono” ou de “inconsciência”. Não se trata de um estado totalmente consciente nem totalmente inconsciente, mas pode ser melhor descrito como um estado de “perda de consciência”. Esses estados de “perda de consciência” resultam num aumento da sugestionabilidade. Esses estados podem ser produzidos de vários modos, tais como por doenças, por drogas ou por sugestão.

Por ser uma situação resultante de uma estimulação do sistema nervoso maior do que a usual, um transe pode ser entendido como uma situação basicamente física. No hipnotismo, ele é produzido pela intensificação de emoções, sejam do tipo reconfortante ou perturbador, por intermédio de sugestões. Por conseguinte, há dois tipos de transes, que dependem do tipo da emoção estimulada.

Um “transe hipnótico” é um transe provocado por um dos diversos métodos interpessoais conhecidos como induções hipnóticas. Em suma, um transe produzido por sugestão é chamado de transe “hipnótico”. O tipo mais comum de transe hipnótico ou de estado de percepção fora da consciência é induzido pelo hipnotizador que faz sugestões para intensificar as emoções reconfortantes.

Certo número de mudanças fisiológicas ocorrem quando uma pessoa experimenta um transe hipnótico. Essas mudanças variam, de acordo com as sugestões feitas pelo hipnotizador, para intensificar as emoções perturbadoras ou reconfortantes.

Todos os transes são essencialmente o mesmo?

A palavra “transe” é quase sempre mal-empregada quando aplicada a estados de semiconsciência, ou a situações meramente de confusão ou estupor[1]. Esses modos populares e metafóricos de usar o termo não têm significado científico.

O transe é realmente um fenômeno neurológico. Se ele é resultado da estimulação do Sistema Nervoso Simpático por meio da intensificação de emoções perturbadoras, é chamado de transe “ergotrópico”. Se resulta da estimulação do Sistema Nervoso Parassimpático pela intensificação de emoções reconfortantes, é chamado de transe “trofotrópico”.[2] Esses dois tipos de transes hipnóticos, às vezes, são citados pelos hipnotizadores como transes “negativo” e “positivo”, respectivamente.

Uma pessoa pode ficar aterrorizada ou “excitada” num transe negativo, do tipo provocado por tambores de macumba, experiências traumáticas, etc. Esses transes negativos são caracterizados por movimentos frenéticos do corpo e uma desorganização mental de tipo extremo.

Por outro lado, o transe positivo constitui um estado confortável e relaxado. A pessoa é levada a ele de modo suave e calmo. Este é o transe positivo utilizado quase que exclusivamente pelos hipnoterapeutas modernos, com propósitos benéficos.

Todos os transes negativos são qualitativamente a mesma coisa; todos os transes positivos são qualitativamente a mesma coisa. As mesmas características fisiológicas e psicológicas estão presentes em cada tipo (embora cada tipo seja diferente do outro), sejam esses estados produzidos por acidente, por rituais, por auto-orientação, ou por outra pessoa. Entretanto, somente quando são cientificamente provocados por métodos hipnológicos, eles podem ser chamados apropriadamente de “transes hipnóticos”.

O estado de transe é, de algum modo, prejudicial?

Isso depende, naturalmente, do tipo de transe que está sendo considerado. O transe negativo é um estado de “choque” do sistema nervoso simpático. Ele é, basicamente, uma situação na qual o sistema nervoso foi estimulado a “lutar ou fugir” e, portanto, não lhe é permitido fazer outra coisa. Numa forma amena, ele pode ser sentido como excitante e divertido. Numa forma extrema, ele pode ser assustador e beirar o pânico.

O transe negativo é, portanto, uma manifestação temporária mas intensa do que, em outras circunstâncias, tem sido chamado de “síndrome da estafa”,[3] que pode ter efeitos psicossomáticos muito prejudiciais. Já que isso se parece com fazer alguém perder a cabeça de medo, certamente será perigoso para pessoas de temperamento nervoso instável, de condições físicas deficientes, e etc.

Por outro lado, o transe positivo é um estado de profundo relaxamento causado pela estimulação do sistema nervoso parassimpático, resultando, portanto, numa situação de tranquilidade interior, de equilíbrio e de harmonia. É um estado psicofísico no qual os fatores perturbadores estão minimizados e forças restauradoras e recuperadoras do corpo estão num nível máximo ou ótimo. Esse é o tipo fundamental de “cura de repouso”. Não há contra-indicações médicas ao transe positivo.

Devemos lembrar, também, que todos os estados de transe, de qualquer tipo e como quer que sejam induzidos, são totalmente temporários em sua essência. O corpo não pode suportar indefinidamente qualquer excesso e, por isso, se normaliza por si mesmo.

Quais são as provas de um estado de transe?

Embora seja fácil para uma pessoa agir como se estivesse hipnotizada, para enganar muita gente, é impossível iludir um hipnotizador arguto.[4] Há sinais e indicações do estado de transe que não podem ser fingidos, por serem resultados involuntários da estimulação do sistema nervoso.

A maior parte dos hipnotizadores experientes pode detectar um transe hipnótico autêntico pela simples observação. Hipnotizadores científicos notam os seguintes sinais de um transe positivo: elevação da temperatura do corpo, lacrimação intensificada, salivação aumentada, globos oculares voltados para cima ou movimento dos olhos um tanto descoordenados (com as pálpebras fechadas) e um leve avermelhamento do branco do olho logo após abri-los. A imobilidade também é um sinal do transe positivo; ela é causada pela diminuição do “reflexo da contrariedade”, que pode ser especificamente testada pela ausência de reflexo nos cílios ou nas pálpebras.[5]

As reações às sugestões apresentadas nem sempre são uma prova segura do transe positivo, porque a maioria dos “desafios” dos hipnotizadores pode ser fraudada. A menos que a reação às sugestões seja obviamente involuntária, não pode ser utilizada para determinar a existência do estado de transe per se. No entanto, uma pessoa hipnotizada reage a sugestões de uma maneira característica conhecida como “lógica do transe”, e isso pode ser útil para que um hipnotizador determine um estado de transe verdadeiro.

Qual o uso prático do transe?

O transe positivo “trofotrópico”, produzido pela estimulação dos sistema nervoso parassimpático por intermédio da intensificação das emoções reconfortantes, decididamente tem um valor terapêutico, não importa que sugestões sejam dadas!

Entretanto, o principal valor do transe hipnótico é que ele tanto causa um estado aumentado de percepção seletiva e de sugestionabilidade, como coexiste com esse estado. Por conseguinte, ele pode ser usado para inserir sugestões úteis e saudáveis no subconsciente. O estado de transe de percepção, por assim dizer, abre um canal para dentro do subconsciente, permitindo que os pensamentos positivos sejam implantados em profundidade na mente. Esse “canal aberto” para o subconsciente também pode funcionar inversamente. Ele pode ser utilizado para descobrir e extrair material profundamente contido no subconsciente.[6]

Os usos práticos do estado de transe podem ser aplicados a qualquer atividade mental do ser humano, seja o objetivo colocar algo no seu interior ou dele extrair alguma coisa. Obviamente, qualquer método que, com finalidades terapêuticas, torna acessível o que normalmente é inacessível à mente, não só é benéfico para a terapia como também nos proporciona um grande progresso no conhecimento do funcionamento interno da mente humana. Esse conhecimento pode aumentar incomensuravelmente a utilização dos nossos poderes normalmente escondidos e, de outro modo, incompreensíveis.

Como modo de estudar a natureza da mente humana em si — suas percepções, suas compreensões, seus níveis de consciência, etc. — bem como para fins terapêuticos e de autoaperfeiçoamento, é óbvio que o transe positivo é um dos mais úteis e práticos fenômenos conhecidos pela humanidade.

Existem poderes sobrenaturais inerentes ao transe?

Não. Porém, pelo fato de os fenômenos do transe, algumas vezes, parecerem misteriosos, é fácil para algumas pessoas atribuir-lhes erroneamente alguma qualidade sobrenatural. Tendemos a “sobrenaturalizar” qualquer coisa com a qual não estejamos familiarizados e que não seja, de pronto, explicável em termos comuns.

A pessoa comum nunca tem oportunidade de observar os fenômenos do transe por um período suficientemente longo, a fim de familiarizar-se com ele e, assim, o transe permanece misterioso para sempre. É, portanto, fácil para ela, não estando familiarizada com a explicação científica, adotar teorias vagas e não-científicas sobre o assunto.

Enquanto o nosso entendimento da ciência hipnológica se amplia, todos os fenômenos hipnóticos vão se tornando totalmente explicáveis em termos mais comuns. Enquanto o público se torna mais esclarecido e os benefícios do hipnotismo ficam mais acessíveis, o seu conhecimento mais generalizado tende a diminuir e a dissipar sua atual “mística”.

É verdade que em transe hipnótico algumas pessoas, frequentemente, parecem transcender as suas aptidões normais. Entretanto, uma vez que todos os psicólogos concordam que o ser humano utiliza apenas uma percentagem muito pequena dos seus poderes mentais, podemos dizer que a maioria dos poderes inatos são normalmente impedidos de se manifestarem devido a problemas psicológicos, ou simplesmente por serem desconhecidos ou não reconhecidos pelo indivíduo.

Algumas vezes, o nível normal de realizações pessoais é ampliado através da hipnose e façanhas que poderiam levar o observador ingênuo a concluir que houve algo de “sobrenatural” — mas, na verdade, nada que um ser humano pode fazer é, rigorosamente falando, sobrenatural, não importa quão inusitado seja.

 

Shrout, Richard N.“Hipnose Científica Moderna” — 1985, Ed. Pensamento, pp. 93-98.

Notas

⚠ Todas as notas foram adicionadas por Samej Spenser. ⚠

 

[1]: ES·TU·POR: sm

1. MED Estado de inconsciência profunda, com ausência das reações motoras e da sensibilidade ao ambiente físico.

2. FIG Imobilidade repentina causada por uma notícia inesperada ou um grande assombro: “[…] chegou a Antares a notícia de que Jânio Quadros acabava de apresentar ao Congresso Nacional a sua renúncia ao cargo de Presidente da República […] Houve espécie de estupor geral” (EV).

3. COLOQ Pessoa de má aparência.

4. COLOQ Pessoa de má índole.

5. COLOQANT Qualquer tipo de paralisia parcial.

EXPRESSÕES

Estupor catatônicoMEDPSICOL: forma de inacessibilidade e imobilidade motora que acomete pacientes em certos casos de esquizofrenia.

Estupor dos dentesCOLOQ: sensação de estarem os dentes embotados.

INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES

VAR: estipor.

ETIMOLOGIA

lat stupor.

[2]: Itálico por Samej Spenser.

[3]: A Síndrome da Estafa Profissional, ou Síndrome de Burnout, descrita em 1974, é uma doença psicológica caracterizada por um sentimento de fracasso, exaustão emocional, redução da realização pessoal e insensibilidade do indivíduo em relação ao seu trabalho e todos aqueles envolvidos no exercício de sua profissão. | Brasil Escola.

[4]: AR·GU·TO: adj

1. Que tem agudeza de espírito; que é dotado de sagacidade; astucioso, perspicaz, sagaz.

2. Que compreende tudo com rapidez e clareza; que é espirituoso e sutil; engenhoso, fino.

3. Que tem habilidade; hábil, industrioso, perito.

4. MÚS Que tem som agudo e afinado; canoro, musical.

ETIMOLOGIA

lat argutus.

[5]: Atualmente, é comum utilizarmos a terminologia “Constelação Hipnótica” para englobar a variadíssima gama de sinais que mostram que uma pessoa está em transe hipnótico.

Vale mencionar também que, tanto os sinais descritos acima, quanto todos os demais (dezenas) sinais da constelação hipnótica não têm ordem nem sequência para surgirem, podendo apresentar alguns neste sujeito, e outros em outro indivíduo; três ou quatro numa ocasião, e outra quantidade noutra ocasião.

[6]: Apesar da possibilidade de “descobrir e extrair material profundamente contido no subconsciente” ser verdadeira, é preciso ter muita cautela e cuidado para proceder de tal forma. Pois o perigo de incorrer/ocorrer a implantação de “falsas memórias” (propositalmente ou não) é muito alto. Até mesmo profissionais altamente habilitados devem ter muita cautela, muito cuidado e agir com extrema sutileza (e “calculismo”) para evitar incorrer nesta possibilidade.

Jamais, (vou repetir com mais ênfase pra você guardar essa informação), JAMAIS permita que alguém despreparado e/ou mal preparado proceda com tal intuito (pior ainda se a pessoa não for um profissional da saúde devidamente habilitado). Inclusive, fora de local adequado, (praças, ruas e similares), como um consultório ou espaço de atendimento terapêutico.

 

 


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