palavrinhas

palavrinhas


David Lane/NASA/APOD.

Grandes lutas, grandes histórias, grandes jornadas. Essas coisas que vivem dentro de nós, naquele espaço entre o ser e o mundo que está a sua volta.

Esse espaço cheio de palavras que cismam em se conhecer melhor. A coisa com elas é que duas palavras poucas vezes se bastam. Elas precisam de mais e mais e mais. Nem sempre elas criam boas relações. As vezes esse entrelaçamento conta umas coisas um pouco complicadas, outras tantas, assustadoras. 

Algumas vezes a gente aprende novas palavras. E todas elas são muito conversadeiras e rapidamente falam com as que já estavam lá antes. A coisa toda fica uma bagunça incrível. As vezes, algumas palavras, um pouco mais fortes, entram em nós e bagunçam tantas coisas que leva anos para as coisas ficarem minimamente inteligíveis novamente.

Outras tantas, a gente mesmo busca novas palavras. Dizem que quando a gente faz isso, diminui muito o espaço entre o ser e o mundo porque é como se o mundo se infiltrasse na gente. Se o ser for esperto ele observa e quem sabe usa algumas dessas palavras para se infiltrar no mundo de volta.

Infiltrar é outra coisa engraçada. Essa coisa de água entrando me parece menos de palavra e mais de colorido. As coisas se infiltram, algumas águas, boas águas, mas águas. E algumas palavras ganham cores, caixas, tipologia e contornos. Parece que ser infiltrado pela água do mundo da formatação ao texto. Dizem que quando essa água borra um texto ele fica assim para sempre. Ninguém que deixou a água entrar voltou a ser o mesmo. Palavras a gente até esquece, mas o que borrou, marcou e tingiu, também ficou.

Acontece que tudo isso também é uma grande viagem. Nesse espaço entre o ser e o mundo tem um universo. Algumas pessoas são muito boas em colocar o universo pra fora e deixar o mundo mais rico. Para outras, é melhor guardar as palavras. Até porque elas parecem maioria. E alguns outros tem tanta coisa dentro de si que parece que nunca nada saiu. A pessoa até tenta, mas no final, o mundo de dentro continua todo ali, invisível para o mundo de fora. Deve ser uma língua diferente, escrita em tinta invisível.

É uma luta encontrar as palavras certas para apresentar ao mundo. Parece que leva a vida toda pra descrever uma cor só, quem dirá todo um quadro de si. Quando parece que as palavras se organizaram de um jeito bonito e apresentável, fica tudo em silêncio de novo. Não tem mais ninguém ouvindo e as luzes se apagaram. 

Mas não importa muito, talvez. Enquanto houver música vai ter palavra.

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