Viés da Confirmação e a Idiotização Coletiva

Viés da Confirmação e a Idiotização Coletiva

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O cérebro nos impede de ver a força dos argumentos que nos contradizem

Cientistas observam uma área cerebral que poderia explicar por que nos fazemos de surdos a outras opiniões

Baseado no texto de JAVIER SALAS - 24 DEC 2019 - 10:16 BRT




Se um amigo lhe dissesse que acaba de ver um elefante rosa voando, você não acreditaria. Elefantes não são rosa e não voam, por isso você precisa de algo além de uma suposta testemunha para mudar sua ideia sobre como o mundo funciona.


cérebro em princípio rejeita informações que contradizem o que você já sabe, e assim ele funciona bem, porque na esmagadora maioria dos casos ele tem razão. Mas o que ocorre quando o argumento é bom – não um elefante voador – e pelo menos deveríamos levá-lo em conta, embora nos contradiga? “Para mim tanto faz”, responderia o cérebro.


“Por que desenvolvemos um cérebro que descarta informações perfeitamente válidas quando elas não se ajustam à sua visão do mundo? Isto pode parecer um design ruim, que pode levar a muitos erros de julgamento. Então, por que não se corrigiu esta falha no transcurso da evolução humana?”, pergunta-se a neurocientista Tali Sharot em A Mente Influente (Rocco).


Para tratar de responder a estas perguntas, Sharot, do University College de Londres, realizou uma série de experimentos que mostrariam, a se confirmarem, como o cérebro se nega a abrir a porta quando quem bate é uma opinião que o contradiz, por mais convincente que seja.



Nestes experimentos, os participantes participavam de um jogo tipo Acerte o Preço, envolvendo o valor de vários imóveis. Era-lhes mostrado um preço, e tinham que decidir se custava mais ou menos, e, depois, decidir quanto apostavam na sua resposta: entre 1 e 60 centavos. Desta maneira, podia-se medir a segurança das suas decisões. Então, se mostrava aos participantes o valor que seus colegas de jogo haviam apostado, e a pessoa tinha a opção de mudar a quantia apostada, mas não o sentido da aposta. Para os cientistas, não foi uma surpresa o que eles observaram: quando o outro participante lhes dava a razão, aumentavam a aposta. E se o outro estava muito seguro, aumentavam-na muito mais. Ou seja, levavam em conta a força da convicção do companheiro quando concordavam. (Efeito Manada somando ao Viés da Confirmação)


ABSOLUTAMENTE TUDO em nossas vidas é "CONTAMINADO" com nossas experiências, crenças, viéses, preferências e nossa "impressão digital mental". Você NUNCA verá o mundo como ele é, mas como VOCÊ É!



Mas, quando o colega apostava o contrário, isso não tinha tanta influência, e quase nunca o valor apostado diminuía. O mais interessante é o que ocorria quando o companheiro opinava o contrário, e além disso apostava muito nessa opção, ou seja, quando sua convicção transmitia muita força. Nesse caso, continuava sem ter muita influência: tanto fazia a intensidade da aposta.


“Descobrimos que, quando as pessoas não estão de acordo, seus cérebros não conseguem registrar a força da opinião da outra pessoa, o que lhes dá menos razões para mudar de opinião”, resume Andreas Kappes, pesquisador da Universidade da City de Londres e coautor deste estudo, publicado na Nature Neuroscience. “Nossas conclusões sugerem que nem sequer os argumentos mais elaborados do outro lado convencerão as pessoas mais polarizadas, porque o desacordo será suficiente para rechaçá-lo”, assegura Kappes. E acrescenta: “O fato de não observar a qualidade do argumento oposto torna menos prováveis as mudanças na mente”.


Viés da Confirmação: manual ilustrado


Estes cientistas deram um passo à frente no entendimento deste viés de confirmação, que Sharot, diretora do Laboratório do Cérebro Afetivo do University College de Londres, define assim: “Procurar e interpretar dados de uma maneira que fortaleça nossas opiniões pré-estabelecidas”. Sharot e sua equipe realizaram estes experimentos observando a atividade do cérebro dos participantes mediante ressonância magnética. E puseram o foco em uma região muito concreta, o córtex pré-frontal medial posterior, uma área que se ativa ao esquadrinhar a confiança ou a qualidade da evidência que nos apresenta e depois nos leva a mudar nossas crenças e opiniões de acordo com a qualidade dessas provas. Se um médico confiante me sugere que eu deveria começar um tratamento, então o córtex pré-frontal medial posterior rastreia a confiança do médico e me leva a ajustar minha opinião de acordo com isso: minha crença de que devo me tratar aumenta, explica Kappes.


Pergunta sem resposta

Ao observar a atividade cerebral durante o experimento, os cientistas viram que, quando as pessoas estavam de acordo, essa região do cérebro estudava o nível de confiança da outra pessoa, o que levava a ajustar suas crenças de acordo com a confiança do outro.

“Entretanto, quando as pessoas não estavam de acordo, o cérebro não fazia isso, dando às pessoas poucas razões para mudar de opinião”, resume Kappes. Por que isto ocorre? “Nossas conclusões não oferecem uma resposta a essa pergunta, só oferecem um mecanismo que subjaz à relutância das pessoas em mudar de opinião”, responde este psicólogo social. Sharot publicou um estudo há poucos meses mostrando que as pessoas deixam de fazer buscas na Internet quando os primeiros resultados proporcionam a informação desejada, outra forma de viés de confirmação digital.


“A tendência comportamental a descartar a informação discrepante tem implicações significativas para os indivíduos e a sociedade, porque pode gerar polarização e facilitar a manutenção de crenças falsas”, afirma a cientista.


“Este estudo é um bom primeiro passo para estudar os mecanismos do viés de confirmação, porque encontram uma correlação com as diferenças nesta região do cérebro, mas isto continua sem explicar essa discrepância entre nossa opinião e a evidência que nos contradiz”, opina a neurocientista Susana Martínez-Conde, especialista nestes autoenganos da mente. “Continuamos sem saber o mecanismo neural; o fato de encontrar atividade associada não dá uma explicação, qualquer comportamento vai estar baseado no cérebro, o estranho seria que não se observasse diferença”, afirma a diretora do laboratório de Neurociência Integrada da Universidade do Estado de Nova York. Ela acredita que é possível encontrar uma resposta no cérebro, “talvez não com estas ferramentas atuais, mas em nível teórico o mecanismo neural tem uma resposta física que devemos poder observar”.


Mas Martínez-Conde é otimista sobre o que mostram estes experimentos. “Os resultados não são tão alarmantes: as opiniões negativas influem, embora muito menos, embora não tenham o mesmo peso, mas sim as consideramos minimamente. É um começo”, diz. Ao desenvolver seu argumento, Martínez-Conde concorda com a ideia expressa por Tali Sharot em seu livro: “Os números e as estatísticas são necessários e maravilhosos para descobrir a verdade, mas não são suficientes para mudar as crenças, e são praticamente inúteis para motivar a ação”.




Como se no experimento você tivesse votado igual, porque é assim que os argumentos alheios são escutados. “Na hora de tentar alcançar um consenso, procuremos um ponto de partida em que estejamos de acordo, e a partir daí será mais fácil moderar as opiniões de outros”, sugere Martínez-Conde.



Um grande problema do viés da confirmação: o impacto conjunto

“Escutamos o que queremos ouvir, e descartamos o que não queremos: não damos o mesmo peso às opiniões que nos contradizem”, afirma Susana Martínez-Conde sobre os resultados do estudo publicado na Nature Neuroscience, e do qual ela não participou.


Mas acrescenta: “O problema do viés de confirmação é bastante mais amplo e profundo que algumas posturas ideológicas”. Para ilustrá-lo, recorre a um experimento de seu colega Matthew Schneps, que trabalhou na resistência em mudar as próprias ideias errôneas com relação a conceitos de astronomia básica. Grande parte dos graduados por Harvard acreditava que as estações ocorrem pela proximidade com o Sol, e não pela inclinação da Terra. Schneps descobriu que, embora o erro fosse corrigido sem que os participantes opusessem resistência, ao cabo de algum tempo voltavam à sua explicação equivocada inicial. “Acredito que há alguns períodos críticos nos quais a solidez das sinapses transformam alguns circuitos quase em algo imutável”, diz Martínez-Conde. “Por isso temos que procurar novas ferramentas”, acrescenta, “porque, como fizemos até agora, não está funcionando”.


Um dos grandes problemas do viés da confirmação é quando muitas pessoas decidem transformar em verdade algo que é claramente perigoso, como os movimentos anti-vacinas. Neste mesmo "bonde" incluímos os terraplanistas: idiotização coletiva que acaba levando a pessoa a acreditar firmemente em tudo que coloque a ciência e os dados em condições de descrédito.


Como o Viés da Confirmação está ARRUINANDO sua vida (e o que você pode fazer a respeito)

“Vemos o mundo através de nossos próprios óculos cor de rosa, permitindo apenas que o que queremos ver apareça em nossas mentes. Todo o resto é filtrado, tudo o que não se encaixa na nossa visão de mundo.”


Agora, mais do que nunca, vivemos em um mundo onde podemos selecionar o que vemos, o que ouvimos, o que experimentamos. Ignoramos informações que não se encaixam perfeitamente em nossa visão de mundo e vemos padrões à nossa volta que confirmam nossas crenças: viés de confirmação.


Viés de confirmação é a tendência de interpretar novas evidências como confirmação das crenças ou teorias existentes e, assim, rejeitar qualquer outra evidência em contrário.




Esse é um grande problema para a sociedade hoje, porque impede qualquer discurso real entre pontos de vista opostos e serve apenas para reforçar as crenças pré-existentes de um grupo. Vemos isso na mídia, nas mídias sociais e até mesmo em nossos círculos sociais. Agora que estamos envolvidos em nossas próprias câmaras de eco, nossos próprios vieses estão se tornando cada vez mais pronunciados, o que agora nos levou a este ponto da história: onde ideologias extremas à esquerda e à direita competem por nossa atenção.



O viés de confirmação leva a 4 efeitos principais:


Polarização de atitude:

Desentendimentos entre diferentes ideologias tornam-se mais polarizados pelo mesmo conjunto de evidências, graças ao trabalho incansável de criadores de narrativas midiáticas maniqueístas e dicotômicas/antagônicas.

Ex: olhando os resultados nos primeiros 6 ou 12 meses de um governante, dois grupos ideológicos distintos, com agendas ocultas - mas perfeitamente definidas - chegaram a conclusões diferentes: um grupo “acredita” que o governante está indo bem e o outro “acredita” que o governante está indo mal, tudo baseado nas mesmas evidências. Tudo depende da narrativa e dos dados utilizados. Os números NUNCA MENTEM, mas é perfeitamente comum mentir usando os números.


Perseverança na crença:

A tendência de se apegar a uma crença mesmo que essa crença seja provada falsa. Qualquer evidência contraditória é desacreditada. Esse tipo de viés ocorre em muitas teorias da conspiração, como a conspiração do 11 de setembro ou a conspiração da a respeito da terra plana, ou sobre as vacinas. Não importa quantas provas existam, estudos científicos, números, dados... Aquele que já foi contaminado pelo estágio da idiotização chamado viés da confirmação não se importa com dados, fatos ou pesquisas. Para este indivíduo, tudo não passa de um enorme esquema conspiratório.


Efeito Primazia:

Os primeiros itens apresentados em uma série têm maior probabilidade de serem lembrados e influentes. O fato que você ouviu em um podcast fica na sua cabeça e confunde a importância dela com a primazia. Por isso, é FUNDAMENTAL manter na mídia narrativas que sustentem determinados pontos de vista. Pelo efeito primazia, aquilo que você vê mais e primeiro (ou por último) fica registrado como mais importante. Fica mais “vivo” na sua mente. Por exemplo: TODOS os estudos DO MUNDO mostram que viajar de avião é o meio de transporte MAIS SEGURO DO MUNDO. Mas, basta a notícia de um avião que caiu em algum lugar para sua mente começar a te dizer que viajar de avião é furada.


Correlação Ilusória:

Percebendo um relacionamento entre duas variáveis ​​ou eventos que não têm conexão. Por exemplo, quando você atribui falsa associação entre um grupo de pessoas e uma ou mais características negativas. Essa técnica foi amplamente utilizada na Alemanha Nazista, quando os Judeus eram “desumanizados” pelo Ministério da Comunicação Nazista, para que os Alemães se sentissem mais à vontade para permitir as atrocidades que eram cometidas contra esse grupo de pessoas.

Um outro exemplo de correlação ilusória é quando um aluno é reprovado em um exame realizado na segunda-feira e, portanto, determina que não tem sorte e não consegue passar no teste se for administrado nas segundas-feiras futuras. (E aí entram também o Efeito Ideomotor e a Profecia Autorealizadora)


"Alguém profetiza um evento, e a expectativa do evento muda o comportamento de quem fez a profecia de tal modo que torna a profecia mais provável" (Rosenthal, 1966, pág. 196).


O que fazer sobre o viés de confirmação

Essa realidade distorcida apenas piora ainda mais nossa situação política/social polarizada. Cada item de notícia é interpretado e regurgitado em um site de mídia tendencioso ou em uma postagem de mídia social tendenciosa de alguém, repetidas vezes. Continuamos a ver os 4 efeitos principais ocorrerem constantemente.



Continuamos a ver uma sociedade em que nossas vidas são regidas por nossos próprios preconceitos internos, viéses e crenças, que se tornaram tão internalizados que impedem a maioria de ver a imagem maior. Isso leva à ignorância e à mente fechada, privando as pessoas de um aspecto vital da vida: pensamento crítico e análise da verdade.


Embora seja difícil determinar qualquer tipo de verdade ou até mesmo definir o termo de uma forma que possa agradar a todos, o fato é que o viés de confirmação é uma força predominante no mundo moderno e as pessoas estariam melhor se pudessem entender e analisar seus próprios preconceitos.


Nossas mentes têm a tendência de fazer padrões do nada, por isso é muito fácil permitir que nossos pensamentos se tornem nublados e ilógicos.


Não estou dizendo que todos devem dar as mãos e ser felizes juntos o tempo todo, mas analisar criticamente os próprios preconceitos é vital para a vida social. Aí reside a “verdade”, que é o pensamento crítico necessário para se olhar profundamente. Não é fácil admitir seu próprio viés de confirmação e como esse viés construiu - ou deturpou - seu ponto de vista, mas acredito que essas ações são essenciais.


Portanto, da próxima vez que vir algo que ofenda sua sensibilidade ou aparência, confirme uma teoria sua, pense por um momento em seu próprio viés e em como isso afeta o modo como você se sente.



Apenas reserve alguns momentos e divida a situação pelo que é, não pelo que você pensa que deveria ser. Nossas mentes são hábeis em criar padrões do nada e a maioria de nossos pensamentos distorcidos conecta eventos aparentemente díspares.



LEIA MAIS: https://telegra.ph/Terraplanismo-e-Idiotizacao-01-06







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