Uzurk-run, o pequeno

Uzurk-run, o pequeno

LeviS

O povo do norte conta a história de Uzurk-run, o pequeno, e nas montanhas existe uma estátua em seu nome. Diz a lenda que os antepassados do norte eram um povo bravio, conquistador, que controlava o poder do fogo como controlamos o movimento de nossos braços. E da extremidade dos dedos do povo do norte saíam grandes labaredas capazes de ferver o mundo. Dentre a tribo do norte, havia um pequeno muito novo chamado Uzurk-run, que apesar de já estar na idade, não carregava consigo o fogo do norte. E seus irmãos disseram, 'vamos até as montanhas, o terreno intocado, lá poderemos pilhar e tirar proveito do que encontrarmos'. E Uzurk-run arrumou suas coisas, mas seus irmãos lhe falaram, 'Uzurk-run, não vá. Pois suas chamas são fracas e seu fogo rapidamente se apaga. Não conseguirá nos alcançar'. E então Uzurk-run, lamentando muito, esperou do topo da rocha mais alta da tribo, sonhando um dia ser como seus irmãos do norte e poder andar com eles. 


E os irmãos do norte seguiram em direção às montanhas e os horizontes se tingiram de vermelho rubro. O ar carregava a fuligem, o que lhes deixavam cheios de si e orgulhosos de suas conquistas. Mas quanto mais próxima do céu mais seca ficava a montanha, e haviam cada vez menos árvores e coisas vivas para incendiar. E os irmãos do norte, que se guiavam pelo carvão, rapidamente se perderam. E não sabiam mais como voltar pra casa, pois tudo ao seu redor era seco e devastado, e não conseguiam queimar a pedra para fazer fogueira. As chamas em seus corações foram se apagando e tornava-se frio.


Uzurk-run, assistindo tudo do topo da rocha, saiu pronto em direção à montanha. E esperou a noite, que era o momento mais temido pelo povo do norte, pois não eram acostumados à escuridão, para acender o próprio dedo em fogo. E percorreu à montanha em busca de seus irmãos, o dedo aceso. Seus irmãos viram a pequena chama ao longe, e cegos, foram em direção ao pequeno foco. Uzurk-run então os guiou de volta para casa, são e salvos.


Uzurk-run é celebrado por nós como o originário da vela, da lamparina e do farol dos marinheiros. Mas o povo do norte não esquece sua verdadeira lição: a de não subestimar o fogo que queima nos pequenos, pois ele por vezes brilha mais que os grandes incêndios. E nunca mais subiram a montanha: neste dia, descobriram que perseguir ambições maiores que o fogo podem cegar e nos fazer perdidos.

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