Saudade
Julia RaposoQuando a Suadade bate,
Ela machuca, e abusa.
Suadade mata.
Mas morre também.
Bateu a Suadade?
Tá morrendo de Saudade?
Então vamos matar a Saudade!
A gente tem Saudade,
Como temos pele e dedos.
A gente sente Saudade,
Como sentimos dor e amor.
Saudade é teoria
Conspiração contra a mente
E o coração, coitado,
Se apega e se afoga
Nas fotografías, que dão,
Então, caminho às estórias,
Às lembranças do risos e sorrisos
Que nos trazen e traíem o passado.
O cheiro velho das janelas empoeiradas
Aonde eu traço meu nome
Em letras inexistentes.
As janelas são apenas meus olhos
E a poeira, minhas memórias
Que crescem em número
Mas diminuem em tamanho.
Nós estavamos sentados, mas aonde?
E aí alguem falou algo que nos fez rir.
Mas quem foi que dice, e dice o que?
E quando foi? Depois de 86, mas antes de 98,
Eu acho.
Eu acho cada vez menos detalhes,
E cada vez mas Saudade.
Suadade da casa com vista de montanhas,
Saudade da praia,
Da areia, da qual eu me esqueço
Que me irritava.
Sei que talvez minhas memórias
Me falham.
Mas mesmo assim,
Suadade vem,
E me mata.
E é uma pena que Saudade nunca morre
Mas queira ou não,
Vou matar Saudade.