São Bento 75
SANTA LÍOBA, O.S.B, ABADESSA (700-779)
Texto de Dom Gilvan Francisco dos Santos, O.S.B
(Monge Beneditino)
INTRODUÇÃO
A santa vida de Líoba foi bastante intensa, pois, ao sair de sua terra natal, a Inglaterra, a pedido do grande Bispo São Bonifácio, ela foi responsável pela vida monástica feminina na Alemanha, juntamente com as suas caras Irmãs da Abadia de Wimborne.
Ela nasceu em Wessex, sua mãe chamava-se Ebba, era parenta de São Bonifácio. Desde a infância, Santa Lioba, foi entregue no mosteiro de Wimborne, Dorsetshire sobre os cuidados da santa Abadessa Tetta, que era uma mulher de grande erudição e vida espiritual intensa. A entrega foi feita devido uma promessa feita por seus pais a Deus, porque, eles, já chegando a uma idade avançada não tinham tido nenhum filho.
Quando consultamos o Martirológio Romano-Monástico, assim está escrito sobre Santa Líoba: “Em Schornsheim, perto de Mongúncia, aproximadamente em 782, a volta para Deus de Santa Líoba, Virgem. Parenta de São Bonifácio, deixou a Inglaterra, seu país natal, para fundar mosteiros na Germânia”. Quanto a data de sua passagem para Deus, temos o ano de 782 segundo o Martirológio Romano Monástico. Mabillon nos deixou o ano de 772 como a data de sua morte. No entanto, outras biografias nos dá o ano de 779.
Que a Santa Líoba seja para nós exemplo de entrega total a Deus, mesmo diante de tantos anos; pois, já se passaram mais de mil anos de seu nascimento, contudo os seus feitos sempre estarão atuais em nossa sociedade que está tão sedenta de Deus e de virtudes. Peçamos sempre a ela sua intercessão. Amém.
Boa leitura!
VIDA DE SANTA LÍOBA, O.S.B, ABADESSA (700-779)
Sua memória é celebrada em 28 de setembro
Santa Líoba não é uma santa que ouvimos falar com frequência, por aí, pois, pela antiguidade do seu nascimento e por ser monja beneditina, faz dela, pelo menos em nosso Brasil, um tanto desconhecida.
Líoba é mais uma daquelas mulheres importantes e fortes anglo-saxônicas do século VIII. Se nos voltarmos para a Inglaterra deste século, veremos claramente mulheres embebidas no verdadeiro espírito do cristianismo, se apresentando com alegria para cooperar na grande obra de evangelização. Isso acontecia em todas as classes da sociedade. “Senhoras de nobre linhagem faziam especialmente notar pelo número e pelo zelo, que as levava a afrontar os perigos inerentes a uma tal empresa”. Muitas delas deixavam sua Pátria para levar o esplendor da Santa Cruz de Cristo às regiões ainda envolta nas trevas do paganismo.
Santa Líoba nasceu no ano 700 em Wessex, Inglaterra. Sua mãe chamava-se Ebba, a qual era parenta de São Bonifácio, O.S.B, (672-754), bispo e mártir. Este santo bispo sofreu o martírio em 05 de junho do ano de 754/55 em pleno trabalho de evangelização na Frísia. Seu corpo foi enterrado na Abadia Beneditina de Fulda, Mosteiro fundado por ele em 744. São Bonifácio é o mais famoso missionário, o qual goza, com justiça, do título de Apóstolo da Alemanha, pois, com zelo infatigável, pregou o Evangelho e abriu caminho à civilização e à cultura. São Bonifácio era monge beneditino inglês e foi enviado em Missão pelo Papa São Gregório Magno (540-604) para evangelizar a Alemanha. Lá, ele organizou a Igreja criando novos bispados e fundando mosteiros.
Líoba, impressionada com a vida do Santo Bispo Bonifácio, tem o desejo de seguir mais de perto o Cristo. Nesse seu desejo, Líoba envia uma carta para São Bonifácio, pedindo-lhe que se lembre dela diante da evangelização a que foi designado. Assim, ela escreve: “Ao Reverendíssimo Senhor Bispo Bonifácio”. Líoba, a última das servas de Cristo, saúda Bonifácio, seu muito amado em Cristo, que se acha revestido da maior dignidade do Senhor, a quem está ligada pelos laços de parentesco. [...]. Sou sua única filha e desejaria que me fosse permitido, embora indigna, considerar-vos como um irmão, no qual confio mais do que em qualquer outro de meus parentes. Envio-vos este pequeno presente, não que seja digno de vosso agrado, mas afim de que vos lembreis de minha humilde pessoa e que a distância não me apague completamente de vossa memória. Desejo também muito que esse presente estreite entre nós o laço de sincero afeto, para que perdure sempre (VIDA DE SANTA LÍOBA, 1914, p. 11). Aqui, vemos claramente o grande desejo da Santa em trabalhar para o reino de Deus. Das correspondências entre os dois Santos, apenas esta carta foi conservada.
Para a alegria de Líoba, São Bonifácio solicita a sua Abadessa Tetta, no ano 748 desejando envio de monjas para fundar um Mosteiro na Germânia e Líoba não podia ficar de fora. Pois, ele conhecia muito bem suas virtudes e erudição para tal empresa. Não era o desejo de Tetta, tirar do seu Mosteiro uma alma de grandes virtudes. Porém, atendeu ao pedido do Bispo. A grande preocupação da Abadessa Tetta era as dificuldades que passariam suas filhas num país que ainda estava sendo evangelizado, bem como as dificuldades da longa viagem a navio. Nesta viagem, foram também duas importantes santas da Ordem Beneditina; Santa Walburga, O.S.B (710-779), filha de São Ricardo rei da Inglaterra e Santa Tecla,O.S.B (+790) era parenta de Líoba. A primeira, depois de passar dois anos sob o governo de Líoba, no Mosteiro de Bischofsheim (casa de Bispo), esta foi enviada a dirigir o Mosteiro de Heidenheim fundado por seus dois irmãos, São Willibald e São Winibald. A segunda, depois de algum tempo foi enviada por São Bonifácio para o governo da Abadia de Kitzingen, no Main. “Seu nome não se acha na lista das Abadessas desta casa, mas supõe-se que ela seja a Abadessa designada pelo nome de “Heilga” ou a Santa (VIDA DE SANTA LÍOBA, 1914, p. 14).
Que alegria para Líoba, aquela viagem, a muito tempo desejada. E, mais ainda por ser enviada com aquelas que tinha grande afeto. Percebemos claramente que na vida dos santos existe uma ligação divina, porque a santidade é cativante.
Interessante foi um sonho que teve em relação a sua vida. Deus, sempre mostra aos seus, a sua santa vontade em visões, sonhos, etc. Se formos a Sagrada Escritura, veremos bem este modo de agir de Deus, tanto no Antigo Testamento, quanto no Novo. Muitos não dão nenhuma importância aos sonhos, mas, neles, muitas e muitas vezes, Deus se revela. Vejamos alguns exemplos nas Escrituras Sagrada.
No Antigo Testamento, vemos José revelando sonhos no Egito; o sonho do Faraó (Gn 41, 1-7), o sonho do copeiro e do padeiro do Faraó (Gn 40, 5-22), o sonho do próprio José (Gn 37, 5-11), o sonho de Jacó (Gn 28, 10-16), o de sonho Daniel (Dn 7, 1-28), o sonho do Rei Baltazar (Dn 4, 16-34) e tantos outros como: Gn 20, 3; 28, 10-16; 31, 10-13; 31, 24; 37, 5-11; 37, 19-20; 40, 5-23; 41, 1-7; 42, 9; 46, 2. Estes são apenas alguns sonhos que o Livro do Gênesis nos mostra entre tantos outros.
No Novo Testamento, podemos dar como exemplo, a visão de São José que é avisado em sonho pelo Anjo do Senhor, que Jesus foi gerado no ventre de Maria Santíssima pela força do Espírito Santo (Mt 1, 20-22) e, também outra passagem do mesmo Evangelho em que São José é avisado para fugir para a terra do Egito, livrando assim o menino Jesus que se encontrava em perigo de morte (Mt 2, 13-15). Igualmente é avisado em sonho no retorno do Egito para se estabelecer em Nazaré (Mt 2, 19-23). Os magos que são avisados em sonho que não retornem à presença do rei iníquo, Herodes, que desejava matar o menino Jesus (Mt 2, 12). Vejamos também a visão de São Pedro nos Atos dos Apóstolos ao ter aquela maravilhosa visão dos alimentos (At 10, 11). Igualmente em (At 12, 3-11), em que São Pedro é libertado da prisão por um Anjo enviado por Deus, etc.
Os pais de Líoba eram muito religiosos e levavam uma vida santa e temente a Deus. Passados muitos anos sem ter filhos, pediam a Deus que lhe enviasse um filho para perpetuar sua descendência e, assim, mesmo na velhice, o bom Deus lhes presenteia com uma linda criança. Tinne e Ebba, seus caros pais, nunca se cansaram de rezar e pedir a Deus o cumprimento de um desejo que a muitos anos lhes era tão caro.
Numa noite, sua mãe teve um sonho em relação ao nascimento da filha Líoba. Assim foi o seu sonho revelador: “Sonhara que trazia em seu seio um sino de igreja e no momento em que estendia a mão para tomá-lo, o sino emitia doces e melodiosos sons. Ebba chamou sua fiel ama e narrou-lhe o sonho; a velha escrava, tomada de espírito profético, disse-lhe: “Dareis a luz a uma filha, que deveis consagrar ao serviço de Deus (VIDA DE SANTA LÍOBA, 1914, p. 5). Ebba prometeu que faria o sacrifício de entregar a filha e, algum tempo depois nasce-lhe uma filhinha a qual foi batizada e colocado o nome de Truthgeba, porém, sempre foi chamada de Leobgytha ou Líoba, que significa “bem-amada”, porque era a predileta de Deus. Uma dádiva. Por profetizar tão grande presente, após o cumprimento da promessa, a ama recebeu sua liberdade em recompensa.
Ainda muito pequena, Líoba é entregue por seus pais, na Abadia de Winborne sob os cuidados da Abadessa Tetta para que fosse instruída na vida espiritual e bem educada, por ser os Mosteiros lugares de grande cultura e vida espiritual intensa.
Interessante também foi o sonho que teve a própria Santa Líoba. Sonho, este, que resumia toda a sua santa vida. Assim, foi o seu sonho: “Parecia-lhe que um fio cor de fogo saia de sua boca; quanto mais se esforçava por tirá-lo, tanto mais e mais se prolongava, como se saísse do íntimo do seu coração. Tendo a mão cheia deste rico fio de seda, começou a enrola-lo em forma de um novelo, que se tornava cada vez maior, até que cansada de enrolar, adormeceu, vencida pela fadiga e a ansiedade (VIDA DE SANTA LÍOBA, 1914, p. 8).
Este sonho ficara tão vivo em sua memória, pois sabia que Deus queria dizer-lhe algo através dele. E, realmente, neste, resumia sua vida inteira. Que bondade, essa de Deus, para sua amada serva! Vemos o salmista cantar: “Eis que o olho de Iahweh está sobre os que o temem, sobre aqueles que esperam seu amor, para da morte libertar a sua vida e no tempo da fome fazê-los viver” (Sl 33, 18-19).
Ao chegar a Alemanha, Líoba, logo é designada para ficar à frente da nova fundação em Bischofsheim. Pouco tempo após sua chegada, aparecem numerosas jovens a procura da vida monástica, devido a sua grande bondade, ficando sob os seus cuidados maternais e auxiliadas pelas suas companheiras que a seguiram da Abadia de Wimborne na Inglaterra. Com isso, conseguiram pôr em prática a observância da Regra de Nosso Pai São Bento. Assim, trabalhando incansavelmente, faz a sua Páscoa (passagem/morte) com grande fama de santidade no dia 28 de setembro do ano de 779. Esta Santa fez muitos milagres em vida e depois de sua morte.
Peçamos sempre a Santa Líoba a graça de amar verdadeiramente a Deus e nunca nos afastarmos de sua presença, como ela mesmo viveu em toda a sua existência terrestre.
Rogai por nós Santa Líoba para que sejamos dignos das promessas de Cristo. Amém.
CARTA DE SANTA LÍOBA, O.S.B, A SÃO BONIFÁCIO, O.S.B
Esta carta da santa é a única que foi conservada
“Ao Reverendíssimo Senhor Bispo Bonifácio”.
Líoba, a última das servas de Cristo, saúda Bonifácio, seu muito amado em Cristo, que se acha revestido da maior dignidade do Senhor, a quem está ligada pelos laços de parentesco.
Rogo que vos digneis lembrar-vos de vossa amizade para com meu pai Tinne, habitante de Wessex, falecido a oito anos e para a alma de quem peço vossa intercessão junto a Deus. Recomendo-vos também minha Mãe Ebba que, como sabeis, vos está ligada pelos laços de parentesco. Sua vida passou-se no sofrimento; durante muito tempo prostrou-a o peso das enfermidades corporais. Sou sua única filha e desejaria que me fosse permitido, embora indigna, considerar-vos como um irmão, no qual confio mais do que em qualquer outro de meus parentes. Envio-vos este pequeno presente, não que seja digno de vosso agrado, mas afim de que vos lembreis de minha humilde pessoa e que a distância não me apague completamente de vossa memória. Desejo também muito que esse presente estreite entre nós o laço de sincero afeto, para que perdure sempre.
Suplico-vos, irmão bem-amado, ajudar-me com o escudo de vossas orações contra os assaltos de meu inimigo invisível. Peço-vos também que vos digneis corrigir esta carta tão mal redigida e não recuseis enviar-me algumas palavras, pelas quais ardentemente suspiro como prova de vosso fervor.
Procurei compor os seguintes versos, segundo as regras da metrificação poética, embora tenha pouca confiança em meu talento e somente deseje exercitar minha veia poética, ainda muito fraca, o que prova que nisto também preciso de vossa direção. Aprendi esta arte com Eadburga, que nunca cessa de meditar sobre a santa Lei de Deus.
Adeus! Vivei por muito tempo, sede feliz e rezai sempre por mim”.
(Seguem-se quatro linhas de versos em latim)
“Arbiter omnipotens, solus qui cuncta creavit,
In regno Patris semper qui lumine fulget,
Qua jugiter flagrans sic regnat gloria Christi,
Ilaesum servet semper te jure perenni.”
REFERÊNCIAS
BÍBLIA DE JERUSALÉM. Nova edição, revista e ampliada. São Paulo: Paulus, 2002.
MARTIROLÓGIO ROMANO-MONÁSTICO. Abadia de São Pierre de Solesmes / traduzido e adaptado para o Brasil pelos monges do Mosteiro da Ressurreição / Ponta Grossa, PR - Mosteiro da Ressurreição, edições, 1997.
VIDA DE SANTA LÍOBA. Traduzido do inglês e publicado pelas monjas beneditinas do Mosteiro de Santa Maria em São Paulo. – São Paulo: Escolas Profissionais Salesianas, 1914.
Ut In Omnibus Glorificetur Dei (RB 57, 9)
Fonte: http://dimensaodaescrita.blogspot.com/2018/09/vida-de-santa-lioba-osb-abadessa-700-779.html