CAPÍTULO XXVII. O DINHEIRO ENTREGUE POR MILAGRE AO DEVEDOR.
Tampouco calarei aquilo que o discípulo de Bento chamado Peregrino costumava narrar.
Uma vez, certo homem fiel, impelido pelo aperto de uma dívida, acreditou ser seu único remédio ir ter com o homem de Deus e expor-lhe a urgente necessidade. Foi, pois, ao mosteiro, onde encontrou o servo de Deus onipotente, e contou-lhe a grave aflição que sofria por parte de um credor a quem devia doze soldos. Respondeu-lhe o venerável Pai que não possuía os doze soldos, mas, para não deixar de consolar com uma branda palavra a pobreza do homem, acrescentou:"Vai, e volta daqui a dois dias,
pois hoje não tenho o que te deveria dar".
Nesses dois dias, conforme o seu costume, ficou entregue à oração. Quando no terceiro dia voltou o devedor aflito, apareceram de repente treze soldos sobre uma arca do mosteiro, que estava cheia de trigo. O homem de Deus mandou apanhá-los e entregá-los ao pedinte angustiado, dizendo-lhe que pagasse doze e guardasse um para os próprios gastos.
Eis que agora volto a contar o que ouvi dos discípulos referidos no início deste livro.
Certo homem vivia sofrendo da gravíssima inveja de um inimigo, cujo ódio o impeliu mesmo a pôr veneno ocultamente na bebida daquele. Não pôde o veneno tirar a vida, mas a pele do homem perseguido mudou de cor, espalhando-se pelo corpo umas manchas que pareciam de lepra. O doente, porém, levado à presença do homem de Deus, depressa recuperou a saúde, pois, logo que este o tocou, lhe afugentou as manchas da pele.