Psicologia Existencial E Timidez: Entre A Ansiedade E A Despersonalização

Psicologia Existencial E Timidez: Entre A Ansiedade E A Despersonalização

Jean_Paolo
10 DICAS PARA VENCER A TIMIDEZ


Esta é uma terra diferente, separada em tópicos temáticos, escrita pelo psicólogo Jean de Oliveira, CRP-03/9178, abordando uma ligeira interseção entre música, psicologia, cristianismo e filosofia.
Boa leitura!


https://t.me/JeanPsicologia


📝Sumário do artigo:

Obs.: Pra quem está lendo pelo Telegram é possível copiar o sub-título e pesquisar na opção "Buscar" dos 3 pontinhos da parte superior direita da tela indo direto pro tópico que mais interessar.

Parte 1 - Psicologia da Timidez e da Introversão 
Parte 2 - Timidez na Bíblia Cristã: Uma faca de dois gumes
Parte 3 - Timidez & O Sentido da Vida: Entre livros e música...
Parte 4 - O Inferno São Os Outros?
Parte 5 - As lições de "Memento Mori" em Frank Sinatra e Titãs
Parte 6 - Negando-se A Si Mesmo do Jeito Errado: Uma visão Cristã sobre a "despersonalização"


Parte 1 - Psicologia da Timidez e da Introversão

Trabalhando como Psicólogo é comum que parte dos atendimentos não seja de fato visando corrigir ou controlar uma patologia mental, mas administrar um traço de personalidade eventualmente difícil ou problemático. E não, esse tipo de problema não se resolve com medicamentos.

Um dos traços de personalidade que, 10 anos atrás, seria tido apenas como tímido ou distímico hoje em dia é tido como "ansioso". De toda modo, é raro encontrar uma pessoa ansiosa que não seja tímida. Não digo isso universalmente, mas apenas em minha experiência clínica.

E afinal, o que é a timidez? Talvez a melhor resposta já tenha sido dada na canção homônima de Biquíni Cavadão:


BIQUINI CAVADÃO TIMIDEZ 1986 (Video Original)



Diferente do introvertido (embora estas palavras sejam usadas como se fossem sinônimas) o que chamarei de "tímido ansioso" precisa de validação social (coisa que não interessa ao introvertido, cuja essência é avessa aos holofotes ou se meter na vida alheia).

Como toda pessoa desejosa por validação, o "tímido ansioso" é um julgador que teme receber do próximo um julgamento tão pesado quanto o que ele faz de si mesmo. O que é esquisito já que, ao contrário do extrovertido que deliberadamente busca (apenas) validação social, o "tímido ansioso" tende a evitar agir e costuma estar cercado por pessoas que não o acham interessante justamente por não fazer nada de mais para ser notado.


Parte 2 - Timidez na Bíblia Cristã: Uma faca de dois gumes

Aqui é importante relembrar a diferença entre aquele que é popularmente chamado de "tímido", mas que é apenas introvertido, e o "tímido ansioso", que é um julgador, como já descrevemos alguns passos atrás. Alertava Jesus nos Evangelhos:



E que julgamento poderia ser pior do que o que fazemos de nós mesmos? Certa feita, assistindo a um episódio da série "Doctor Who", num dado episódio, uma personagem metamorfa não conseguia controlar sua habilidade e acabava se tornando idêntica a qualquer pessoa que tocasse, e uma pergunta da mesma me chamou atenção:



No caso do background de construção da personagem, isso havia destruído seus relacionamentos. Óbvio que me chamou atenção.

Voltando às da Escrituras Sagradas, há uma passagem extremamente pesada sobre "timidez" na Bíblia que vem de Apocalipse 21:8 na Tradução Almeida Corrigida Fiel - ACF (apesar deste versículo não conter a melhor das traduções, decidi usar o texto assim mesmo por conta do contexto do presente artigo):



Outra passagem com tradução menos problemática sobre este tipo específico de "tímido" a que me refiro aparece ne Evangelho de Marcos:

 


Se o tipo ansioso de timidez é julgador por ser auto-referente e, ao mesmo tempo, incapaz de agir devido também a esse aspecto julgador, pode-se concluir, por conseguinte, que tais pessoas não confiam nem em si nem no próximo. E o que seria a fé senão um tipo de confiança?


Parte 3 - Timidez & O Sentido da Vida: Entre livros e música...

Viver a vida como quem não age, não cria laços, julga e se julga acaba por nos levar a um tipo de dissonância cognitiva entre o que queríamos fazer e o que de fato fazemos, como se o que as pessoas desejam de nós fosse mais importante do que quem de fato somos e a missão que temos, independente de se entender missão como a concretização de uma obra, a realização de um talento desenterrado ou um dom espiritual que Deus lhe entregou para servir ao próximo da maneira como Ele projetou para que fossemos.

Inevitável passar por este tema sem parar para pensar na resposta para a pergunta de "qual é o sentido da vida?" ou, ao menos, "qual é o sentido da MINHA vida?" Eu mesmo tive de tatear a resposta e ainda me lembro do que escrevi:


Acredito que o sentido de viver seja dar forma à própria alma (self). A vida dura pouco, e é nesse pouco tempo que devemos nos tornar aquilo que de fato somos, assim como a semente deve se tornar a árvore. E isso já é demasiado cheio de empecilhos que nos podam para adicionarmos a isso vivermos como mentirosos numa vida que não é a nossa.
As pessoas deveriam gastar mais tempo sendo o que de fato são (e não o que pensam ser, queriam ser, se sentem como se fossem nem o que te dizem pra ser). E isso é difícil porque é um processo que precisa acontecer através dos nossos relacionamentos humanos fundamentais de afeição, amizade, paixão e caridade. Tem um livro do C. S. Lewis sobre isso chamado "Os Quatro Amores", que ilustra bem, com diversos exemplos da vida real e da ficção, como cada uma dessas coisas pode desde nos curar até causar profundo sofrimento.
Acho que a única forma de ser mais claro que isso é com poesia:


The Calling - Things Will Go My Way (legendado)



Obs.: A poesia acima é um trecho da canção 🎧"Things will go my way", do The Calling. 


Parte 4 - O Inferno São Os Outros?

Pessoas que vivem para si são egoístas, mas pessoas que vivem apenas "por e para os outros" são "outroístas". Me perdoem o neologismo mas, para variar, a sabedoria está no meio, no equilíbrio, na justa medida. Já dizia o ditado popular: 



Como então encontrar este equilíbrio? Sartre afirmava que a verdadeira liberdade só nos é clara diante da morte. Neste ponto, devo concordar. Infelizmente, Sartre, que não era nenhum homem santo, também concluiu de forma bastante problemática em uma de suas peças que...



Como nem negligenciar sua própria verdade nem cair no poço sem fundo da auto-indulgência?


Parte 5 - As lições de "Memento Mori" em Frank Sinatra e Titãs

Talvez você, que lê este artigo, não esteja familiarizado com o significado da expressão em latim "Memento Mori", por isso farei uma pequena introdução ao conceito:


A ideia de MEMENTO MORI dos filósofos ESTÓICOS

"Memento Mori" basicamente significa " "lembra-te da morte". Mas para quê?

Duas canções bastante famosas que nos dão um vislumbre de como a consciência da obviedade da morte põem em perspectiva como vivemos (se vivemos para nós mesmos, para os outros ou para a Verdade) são: 


"Epitáfio", da banda brasileira Titãs



"My Way", de Frank Sinatra.



"Epitáfio", assim como Memórias Póstumas de Brás Cubas, se propõe a analisar a vida da perspectiva de um morto que não pode mais escolher uma vida diferente da que teve. Wittgenstein, em sua primeira fase, se "reviraria no túmulo" se pudesse ouvir esta canção e, de fato, só não o faz porque, em suas palavras:



Graças a Deus, todavia, assim como é possível usar palavras para nomear coisas indizíveis e impossíveis de expressar por palavras, também podemos refletir sobre a vida da perspectiva de um morto.

Já em "My Way", um Frank Sinatra em fins de carreira (e não muito longe da morte, diga-se de passagem) medita sobre o fim de sua vida da perspectiva de alguém que buscou fazer aquilo que realmente acreditou e que procurou viver sem se curvar, trilhando o próprio caminho e não o de outra pessoa.


Parte 6 - Negando-se A Si Mesmo do Jeito Errado: Uma visão Cristã sobre a "despersonalização"

Infelizmente, também é possível vivenciar a morte ainda vivos, seja pelo egoísmo de se negar a agir para e por algo maior do que você mesmo, seja pelo "outroísmo" de sofrer um severo processo do que na Psicologia chamamos de "despersonalização", simplesmente para se adequar ou atender a expectativa dos outros sobre você, negando quem de fato se é no sentido mais luciferino possível: ao contrário de negar a si mesmo e tomar a cruz da realidade buscando em Cristo a expiação de seus pecados; na despersonalização, o que se faz é negar a essência do que Deus te fez para ser, dos dons, talentos e situações onde a vida nos pôs, para se tornar mero joguete do que os outros, tão contingentes e de conhecimento tão limitado quanto você, queriam que fosses.

Esta é a idolatria: colocar algo, alguém, uma idéia, prazer ou grupo no lugar que deveria pertencer somente a Deus. Neste caso, o "acaso" não irá "te proteger enquanto você andar distraído", só irá te impedir de acordar para a realidade. Mas a morte irá lembrá-lo de tudo que poderia ter feito e não fez. Isto é Memento Mori!

Talvez seja uma boa hora para refletir em todas as vezes que a timidez te impediu de fazer o que é bom, belo, justo e verdadeiro porque talvez os grupos, sua família, amigos, chefe, etc. não aceitariam ou concordariam.

É certo o que diz a frase atribuída a Clare Boothe Luce:



...Mas ao menos você terá a dignidade de se olhar no espelho e dizer, assim "como disse Frank: Eu fiz do meu jeito".¹



¹ - Referência à tradução direta do trecho da canção "It's My Life", de Jon Bon Jovi, em referência a Frank Sinatra: "Like Frankie said: I did it my way".


Caso queira ler mais artigos como este visite meu canal no Telegram, @JeanPsicologia:


➡️Visualizar como Site⬅️


➡️Canal do Telegram ⬅️

Report Page