Pedregulhos

A vida é uma coisa complexa. Ela pode ser muito boa, ou não, mas ela é sempre muito dura. A gente pode conseguir viver alguns adjetivos e qualidades que gostamos e na verdade devemos buscar essas coisas. Mas tudo isso não fará da vida menos dura.
Aliás, fazer qualquer coisa vai mostrar que tudo na vida é esforço, trabalho, dedicação e que sem isso nada funciona. Nada acontece. Qual o prato do sábado?
Fazer a vida é muito exaustivo. A gente não sabe exatamente quando as coisas vem. Até que se realizem, todas as previsões são, no máximo, alentos de que o caminho está certo, combustível para mais um passo. De resto, apenas palavras que cismam em querer construir um universo.
A questão é que, quando a gente não desiste, um dia, tudo isso funciona, a verdade é essa. Dá pra mudar de caminho muitas vezes, dá para parar e descansar. Dá para aproveitar tudo o que tem de bom que vem com a vida. Não dá para fugir dessa eterna subida de esforço, trabalho e dedicação. Não, isso não é um lembrete para trabalhar mais. O trabalho para a firma é só uma parte da vida e na verdade a realização que vem dele é muito sozinha e vazia se não tivermos outras coisas.
É uma maldição da pobreza da linguagem que tenhamos que chamar o trabalho da firma do trabalho que precisamos fazer enquanto o coração bate. Mas a gente é espertinho e não vai se deixar enganar.
Parar, descansar e curtir não é privilégio, não é direito. É necessidade. Sem isso, a vida definha. Até porque, se a vida é dura não poderia então ser de outra forma. Ela não poderia ser assim se tudo o que é bom não fosse necessário.
Mas a gente se perde.
Se perder porque na vida a gente perde muito mais do que ganha. E ninguém avisa nada. Ninguém fala nada. Feliz é aquele que tem um coração na derrota, um abraço no erro. A gente erra mais do que acerta, perde mais do que ganha.
A diferença é que, quando a gente quer, cada derrota é na verdade um passo no caminho da vitória incontestável. Quando a gente faz do erro de um dia, e tem muitos dias desses, o acerto de uma vida. Quando da gente faz da pedra a montanha sobre a qual construímos nossa história.
Suba a montanha. Quando a vida estiver dura, é aí que ela precisa ser boa.