“O principal erro de um pregador é pregar sobre ele mesmo”, diz Augustus Nicodemus - Guiame
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Em mais de 40 anos de pastorado, um dos destaques do ministério do pastor Augustus Nicodemus é a pregação. A partir de suas experiências e desafios, ele decidiu reunir em um livro as questões vitais para a vida de um pregador.
Sendo autor de mais de 50 obras, esta é a primeira vez que ele lança um livro sobre o tema, intitulado “Confissões de um Pregador”.
“O livro, mesmo sendo destinado a pregadores, acaba sendo útil também para aqueles que escutam pregadores”, disse o pastor em entrevista exclusiva ao Guiame.
Afinal, o que um pregador deve evitar? De forma prática, o pastor pontua quais são os maiores erros que ele tem notado nas atuais pregações.
“Em geral, o principal erro que deveria ser evitado é o pregador pregar sobre ele mesmo, ao se expor, se exaltar ou se apresentar de maneira pretensiosa”, Nicodemus afirma. “O pregador deveria ter uma postura de humildade, de saber suas limitações e seu lugar no Reino de Deus.”
Outro erro apontado por Nicodemus é “usar a pregação para divertir e entreter o povo”.
“A tarefa do pregador é expor a Palavra de Deus. O erro mais comum que vemos hoje é que o pregador prega tudo, menos a Palavra. Não há exposição bíblica, não há explicação do texto, não há ensino sobre o sentido original pretendido pelo autor e não é mostrado como a mensagem se aplica no cotidiano”, afirma o pastor.
Outro ponto a ser destacado por Nicodemus é a falta de relevância em alguns sermões.
“Os pregadores, muitas vezes, estão dando respostas para assuntos dos quais ninguém está perguntando. São muito acadêmicos ou tratam mais de suas questões pessoais no púlpito. Mas a questão é: como o meu sermão vai ajudar a dona Maria, que na segunda-feira irá vender pastel na feira? Essa falta de conexão com a vida real faz com que o ministério de alguns pregadores não seja efetivo”, pontua.
Assista a entrevista completa:
Pregação bíblica, mas de fácil aplicação
Quais então seriam os conselhos de Augustus Nicodemus para uma pregação centrada no Evangelho, mas ao mesmo tempo de fácil aplicação?
“Eu creio que a exposição bíblica é o tipo de pregação que melhor atende isso. Mas não é a única forma de pregar”, ele responde.
Existem pelo menos três tipos de sermões: o sermão tópico ou temático, que é estruturado em torno de um tema; o sermão textual, que é estruturado a partir de um texto bíblico; e o sermão expositivo, que é estruturado em torno de um texto bíblico, mas traz sua interpretação e aplicação.
“Na pregação expositiva, o sermão está no texto. Enquanto que nos outros tipos de pregação, o texto está no sermão”, avalia Nicodemus.
“A vantagem da pregação expositiva é que ela traz a Palavra de Deus diretamente para o coração dos ouvintes.”
Outro ponto que o pastor destaca é a importância do preparo da mensagem.
“O Espírito Santo nos abençoa na hora de pregar, mas o Espírito Santo nos abençoa também na preparação. O Espírito Santo não ajuda preguiçoso. O pregador deveria passar bastante tempo estudando e se preparando para que ele seja relevante em sua pregação”, destaca o pastor.
E pontua: “Mas ele tem que gastar tempo em oração também.”
“Um sermão pode ser muito bem preparado, mas se não tiver sido feito com oração, no poder do Espírito Santo, vai ser apenas mais um tratado teológico, a defesa de uma tese ou um artigo doutrinário. A pregação envolve todo o ser do pregador.”
Como abordar temas difíceis no púlpito?
Assuntos que fazem parte da sociedade contemporânea, como sexualidade, divórcio, política, entre outros, são difíceis para muitos pregadores. Nicodemus diz que busca lidar com eles “estando atualizado” e “preparado para dar respostas bíblicas”.
“O pregador precisa estar bem informado por uma questão de relevância. Sua igreja pode estar sendo influenciada por uma série de acontecimentos que ele não tem a menor noção e, por estar desinformado, pode perder a oportunidade de ajudar o seu povo a enfrentar as crises que o mundo moderno está trazendo”, avalia.
Capa do livro de Nicodemus. (Foto: Editora Mundo Cristão)
Outro ponto a ser considerado é levar em conta que “a maioria dos problemas das pessoas vêm de nossa natureza corrompida”.
“O pecado afetou todas as áreas da sociedade, de forma que distúrbios, crises, angústias, carências têm origem principalmente na natureza pecaminosa das pessoas. A queda dos nossos primeiros pais trouxe isso sobre nós”, afirma o pastor.
“É impossível que o pregador faça seu trabalho sem levar isso em consideração. Ele deve levar as pessoas a entender onde estão pecando, a reconhecer os seus pecados, levá-las ao arrependimento, à reconciliação e ao perdão”, acrescenta.
Nicodemus acredita ainda que “boa parte dos lamentos que ouvimos de alguns pregadores ‘ah estou sendo perseguido porque eu falei sobre a prática homossexual’” são motivadas por não saberem comunicar a Bíblia de forma correta.
“Boa parte das perseguições e críticas contra pregadores hoje é porque eles não sabem expor o erro de uma maneira gentil e clara, porém firme e educada. E o resultado é essa impressão de que o pastor é sempre uma pessoa irada”, ele diz.
Os maiores desafios de Nicodemus
O pastor revelou também os três principais desafios que teve que lidar em seus 40 anos de ministério. O primeiro deles é a área financeira.
“À medida que a família cresce e os filhos chegam, as demandas financeiras aumentam. Um dos maiores desafios era não deixar a necessidade financeira influenciar as decisões ministeriais — que igreja vou pastorear, onde vou pregar, quais convites devo aceitar. O pregador, especialmente o itinerante, tem que aprender a confiar em Deus e pegar em qualquer lugar”, ensina o pastor.
O segundo é a popularidade. “Você é conhecido, as pessoas o procuram para dizer como seu ministério abençoou a vida delas, querem tirar fotos, gravar vídeos. Existe um assédio no bom sentido por parte dessas pessoas. Mas o pregador precisa ter cuidado com a popularidade para não pensar que é ‘alguma coisa’. Se ele é popular e tem alcançado muita gente, é só pela graça. Toda glória é de Deus e eu não posso roubá-la.”
Por último, Nicodemus cita o descanso. “Eu venho sempre pedindo perdão a Deus pela quebra do mandamento, que temos que trabalhar seis dias e descansar um. Pastor precisa descansar”, pontua.
“Ele trabalha por sete dias, durante três expedientes, e depois está com burnout e stress, fica irritado, doente e acaba perdendo seu ministério de alguma forma. Essa tem sido uma das grandes lutas do meu ministério, porque eu sempre fui muito ativo. Parar para descansar é difícil para mim”, confessa.