O mito da neutralidade

O mito da neutralidade

Felipe Forte
Como a justiça, a neutralidade também é cega. Mas por outros motivos.


Ah, a neutralidade. Objetivo perseguido de jornalistas, acadêmicos, e atualmente da Wikipédia. Como eles conseguem ser neutros, afinal? Resumindo: eles não conseguem. Mas eles tentam o máximo não pender para nenhum posicionamento ideológico, o que é no mínimo, loucura, pois toda palavra é ideologia. O conceito de neutralidade é em si uma ideologia. A definição de ideologia no sítio Dicio.com.br traz a seguinte perspectiva:

“Reunião das ideias características de um grupo, de um período, e que marcam um momento histórico: ideologia capitalista.”

Toda ideia só pode ser parte de um grupo através da linguagem. Nesse sentido, a ideologia e a linguagem tornam-se cúmplices. Toda palavra é uma palavra que designa uma ideia, até mesmo as palavras meramente gramaticais, são expressões de uma ideia gramatical, tornando uma frase reconhecível para qualquer um que a leia (mas a ambiguidade é sempre inevitável). E a linguagem, assim como as ideias, mudam com o tempo.

Por exemplo, a palavra vulgar “caralho” tem uma possível origem no latim cassus, especificamente seu diminutivo, carassus, que significaria “vaziozinho”. Carassus era o termo que se atribuía ao cesto da gávea de uma embarcação, que era o ponto mais alto, onde os tripulantes ficavam para vigiar outras embarcações ou terras próximas. Como carassus, e, eventualmente, “caralho”, tornaram-se vulgares é especulação, mas conta uma história popular que os tripulantes detestavam ficar no cesto da gávea, porque balançava muito e eles ficavam extremamente enjoados. Era uma tarefa indesejável, então os capitães ordenavam aqueles que não o obedeciam para “ir ao caralho”.

A linguagem evolui, a ideologia evolui junto. No caso do jornalismo, além das palavras, a ideologia está presente na decisão de se abordar um assunto. Por exemplo, enquanto o governo atual Bolsonaro recebe denúncias de corrupção pela SECOM, a imprensa fala do caso do Secretário nazista. Ambas notícias são graves em si, mas a cobertura do caso da SECOM foi mínimo, comparado ao outro.

A ideologia está em nossa volta, basta atentar seus olhos, ouvidos e sua mente. Paulo Freire já estava atento a isso quando ele fala a frase com a qual eu quero fechar esse texto:

“Não existe imparcialidade. Todos são orientados por uma base ideológica. A questão é: sua base ideológica é inclusiva ou excludente?”

Pensemos sobre.

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