MEDITAÇÃO DIÁRIA
Católico TradicionalDa “Homilia sobre a oração”, de São João Crisóstomo, bispo
(6.ª)(Séc. IV)
A oração é a luz da alma e o verdadeiro conhecimento de Deus
A oração ou o colóquio com Deus é o sumo bem: em verdade é uma íntima relação ou união com Deus. E como são iluminados os olhos do corpo quando veem a luz, assim também a alma atenta a Deus é iluminada pela luz infalível dele. Quero falar de uma oração que não seja puramente exterior, mas que brote do íntimo da alma; que não fique circunscrita apenas em determinados intervalos de tempo, mas se desenvolva ininterruptamente de dia e de noite. Em verdade não precisa somente levar a alma a Deus no momento da oração, mas também quando estamos envolvidos em quaisquer outras ocupações: na assistência aos pobres, em outras atividades ou em obras de beneficência devemos inserir ali o desejo e a lembrança de Deus, de maneira que aquelas atividades, temperadas com o amor de Deus como com o sal, se tornem um alimento muito agradável ao Senhor do universo. Mas nos é dado gozar perenemente a vantagem que brota da oração se lhe dedicarmos a maior parte do nosso tempo.
A oração é a luz da alma, o verdadeiro conhecimento de Deus: mediadora entre Deus e os homens, a cura para as paixões, remédio para as dores das doenças, alívio para a alma, guia no caminho celeste, que não se volta para a terra, mas é direcionada para as alturas dos céus. Ela voa além das criaturas, abre caminho e ultrapassa os ares com a alma, lançando-se além dos coros dançantes das estrelas, abre as portas dos céus, se eleva acima dos anjos, até a inacessível Trindade. Lá, adora a divindade, lá é considerada digna da união com o Rei do céu. A alma, elevada por meio dela ao alto dos céus, abraça o Senhor com abraços inefáveis, desejando o alimento divino como um menino que chama a sua mãe entre lágrimas: apresenta com insistência as suas súplicas e recebe os dons mais excelentes de toda a criatura visível. Não creiam que a oração consista em palavras. A oração é o desejo de Deus, amor inefável, não produzido pelos homens, mas gerado pela graça divina da qual também o Apóstolo disse: Nós não sabemos o que é conveniente pedir, mas o próprio Espírito intercede com insistência por nós com gemidos inefáveis (Rm 8,26). Se o Senhor concede a alguém uma oração assim, ela constitui para tal pessoa uma riqueza inalienável e um alimento celeste que sacia a alma; quem a experimentou é inflamado de um desejo eterno do Senhor que se expande na sua alma como um fogo ardentíssimo.
Quando te dispuseres a realizar esta oração, revista a tua casa de modéstia e humildade, torne-a iluminada com a luz da justiça, adorna-a com lâminas de ouro puro, isto é, com as boas obras: decora-a não com pedras preciosas, mas com a fé e a grandeza de alma, colocando acima de tudo a oração, como o frontão que enfeita a casa. De tal modo prepararás perfeitamente a tua morada para o Senhor e o receberás nela como num esplêndido palácio real, logo possuindo-o com a sua graça, como uma imagem construída no templo da alma. A ele seja dada a glória e o poder eternamente.
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Canal: Católico Tradicional