Lua Cheia de palavras

Lua Cheia de palavras

Wil the supersonic blast.
Crédito: Angel Yu/NASA/APOD.

Lua Cheia, aquele momento do mês em que tudo transborda. É, também, última do ciclo cronológico, é o encerramento da temporada de eclipses e é o momento onde algumas fichas caem. Caem porque algumas histórias passam a conseguir se articular dentro de nós para serem contadas e com isso entendidas.

Somos seres históricos, somos seres religiosos, somos seres narrativos. Somos construídos com base em informações ordenadas – ou desordenadas, vai saber como estão Urano e Chiron no seu mapa – que constroem um todo mais ou menos coerente que se alterna a todo momento, interagindo com infinitas outras narrativas ao nosso redor.

Gêmeos é onde conhecemos pela primeira vez a palavra. Onde esse poder divino de infinita grandeza nos é apresentado. Onde tudo pode passar a ganhar um nome e, com isso, existir. E em Sagitário, estamos explorando o universo e tudo o que ele possibilita. Ou, ao menos, desejando essa exploração. Nesses últimos dias estamos tentando entender o que foi e nos direcionar para o que queremos. E isso deixa uma certa confusão que vai dissipar ao caminharmos. Com as próximas semanas os caminhos ficam mais claros. Mas agora a gente precisa falar, precisa escrever, precisa comunicar. Mais que tudo, a gente precisa disso para se organizar.

E é nesse ponto de efervescência que nos encontramos agora. Depois da segunda temporada de eclipses do ano, às portas do último solstício, fechando a quadratura Saturno – Urano que marcou, que deu toda a cara desse ano.

Mas uma coisa de cada vez. Primeiro, o último eclipse.

Como falei no último texto, eclipses ocorrem em grupos, pares ou trios, e tem temáticas específicas que mobilizam os pontos celestes que tocam de acordo com essas temáticas e com as próprias configurações dos eclipses. A temática dessa série fala de alianças e relações fortuitas que levam a situações mais afortunadas e felizes que a anterior. No eclipse do dia 4/12, que ocorreu com o Sol a 12 de Sagitário, nos termos de Vênus, veremos uma intensa mobilização de parcerias, alianças, inclusive entre formas de pensar diferentes e de questões financeiras. É um momento também onde somos colocados de frente com nossos exageros, tanto os materiais, quanto os intelectuais e com ações exageradas e onde revemos a forma de lidar com esses valores e com os nossos saberes. Os eclipses do eixo Gêmeos e Sagitário mexem muito mais com os sistemas de crenças, questões jurídicas, acadêmicas e estudantis, transportes, comércio e principalmente comunicação e disseminação de informações e nos confronta com as certezas que temos a respeito de nossas crenças e verdades. Ser religioso, como Sagitário, é estar em busca constante, questionando e aprendendo e, não raro, em crises. O crescimento espiritual simbolizado por Sagitário tem muito das crises e mergulhos nas sombras do escorpião. Porém, dessa vez, além dessas questões tipicamente Gêmeos – Sagitário, temos as questões de relações, já que é a temática da família desses eclipses e já que mês que vem se teremos a quase bienal retrogradação de Vênus. Júpiter, o regente de Sagitário e senhor deste eclipse, se encontra no último decanato de Aquário, instigando e fomentando partidas que abrem caminho para o novo e, principalmente, abrindo horizontes para o infinito. Algumas coisas se vão antes das novas virem. E elas virão. Hora de agradecer e seguir. Sempre tem algo bom, ensina o centauro.

Mas o eclipse, ainda que seus efeitos perdurem por muito tempo ainda, já se foi. E agora temos a Lua Cheia, que nos enche até transbordarmos. Dessa vez, de palavras, de esperanças e de expectativas. Júpiter é pródigo em prometer e não entregar. Sagitário, tão otimista, Peixes e Câncer, tão sonhadores, vivem nesse mundo de promessas e muitas vezes ilusões de Júpiter. Acontece que as promessas de Júpiter pouco se firmam sem o chão, o trabalho e o comprometimento de Saturno. Este, sim, cumpre o que promete. Que quase nunca varia de dureza, responsabilidade e esforço, muito esforço e trabalho. Nesse momento, temos um olhar para a nossa caminhada até aqui, procurando entender o que foi até agora. O ano, para os astros, está longe de acabar. Ainda temos uma estação inteira pela frente e um novo momento, que durará muito, muito tempo só começou. E ainda estamos tentando entender, dar sentido, nomear e organizar as palavras para que elas virem narrativas. 2021 foi um ano de choque entre novo e velho, um ano que nos tirou do lugar e mostrou coisas que queremos muito. Foi um ano que, não raro, nos mostrou o valor da estabilidade, principalmente pela total falta dela, para ao menos podermos caminhar para os sonhos, mesmo os mais loucos. E nesses dias de Lua Cheia a gente transborda de palavras tentando encontrar o fio da meada de tudo o que vivemos e nomear coisas que deem chão, norte e direção. Nomear e entender coisas que vieram talvez nesse ano, talvez desde o começo de 2020, talvez desde 2012, talvez desde que nascemos. Depende de como tudo isso impacta seu mapa, na verdade. É uma hora que buscamos narrativas que nos permitam seguir com as joias que forem possíveis e palavras que suturem as feridas.

Afinal, vem aí o ciclo final do ano astrológico, o ingresso do Sol em Capricórnio, e com ele também o final da impactante e disruptiva quadratura Saturno – Urano que perdurou o ano inteiro. Curiosamente, muitos dos impactos e efeitos dessa quadratura ficarão mais evidentes com o passar dos meses e os eclipses em Touro – Escorpião, que vão de fator alterar muitos valores e mexer com o sistema financeiro e imobiliário. Mas a marca que q quadratura deixa é a de ruptura com os ordenamentos e estruturas previamente estabelecidas, abrindo espaço para uma conscientização muito maior e uma ação maior do indivíduo para o coletivo. De uma forma ou de outra, fomos levados a pensar em escalas muito maiores do que o nosso quintal. E a passar a agir de acordo com nossos ideais para com o coletivo.

Deixamos hábitos, deixamos valores, deixamos situações para trás. Rompemos, mudamos. Houve tumulto, mas principalmente internamente. Transições são muito instáveis.

Deixamos um mundo para trás. Uma parte dele ainda resiste, claro. Tem muita coisa que não deve morrer, ao contrário, deve ser preservada. Não é pouca coisa. Mas outras se foram. Muitas e muito mais do que ficam. Pense em como você era em 2011. Pense em como você era em 2019. E me diga se não mudou MUITA coisa. E mais ainda vai mudar.

Nos dirigimos para um ano de cura. Um ano de fé, magia, sentimento, idealismo, de utopias e de humanitarismo. Mas também nos dirigimos para um ano de ilusão, de delírio e ainda mais radicalização da polarização. O grande aspecto do ano que vem é a conjunção Júpiter – Netuno. A fé vai ganhar uma imensa força. Para o bem e para bem disfarçado de outras coisas.

Mas por enquanto a gente procura palavras. Agora precisamos muito delas. Porque vamos dizer para nós e para os deuses para onde queremos ir. As palavras determinam e descrevem o mundo. Uma coisa não existe sem a outra. A gente se descreve e se recria. Quem se descreve, se cria. E, por fim, procuramos entender quem fomos e quem somos. Porque sob o Sol de Sagitário começa a ficar bem claro que seremos muito melhores do que fomos.

Report Page