EUA tiveram papel decisivo na invasão de prédios públicos em Brasília, afirma Korybko

EUA tiveram papel decisivo na invasão de prédios públicos em Brasília, afirma Korybko

Estados profundos de EUA e Brasil agiram em conluio durante invasões em Brasília.

Um dos principais especialistas em Guerra Híbrida do mundo explica à Sputnik Brasil por que EUA de Biden e Brasil de Lula agiram em conjunto para produzir a invasão às sedes dos três Poderes em Brasília em 8 de janeiro.

Presidente dos EUA, Joe Biden, durante discurso em reunião de líderes norte-americanos, Cidade do México, México, 10 de janeiro de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 11.01.2023

Em texto sobre o Brasil recentemente publicado pelo autor do livro "Guerras híbridas – das revoluções coloridas aos golpes", Andrew Korybko sugere que os acontecimentos em Brasília deste domingo (8) são fruto de conluio entre elementos da burocracia permanente de EUA e Brasil, a fim de produzir pretextos para o enfraquecimento da extrema direita e consolidação do poder de Lula.

"Elementos das alas militares e de inteligência da burocracia permanente do Brasil conspiraram com seus pares americanos para replicar o cenário da invasão do Capitólio [em Washington, no dia 6 de janeiro de 2021], a fim de forjar uma 'Revolução Colorida' fracassada, que servirá de pretexto para a consolidação do poder de Lula", declarou Korybko à Sputnik Brasil.

Segundo ele, é necessário questionar a ideia de que as burocracias de segurança brasileiras atenderiam somente aos interesses do bolsonarismo, uma vez que os Estados Unidos também gozam de forte influência nessas instituições.

"As forças militares e de inteligência são consideradas simpáticas à direita em geral e a Bolsonaro em particular", considerou o analista. "No entanto, os militares e os serviços de inteligência atenderam à demanda de Lula para restaurar a ordem na capital no final do dia [...] reconhecendo a autoridade legal do presidente como comandante em chefe."

Apesar do questionamento, Korybko não retira a responsabilidade legal daqueles que vandalizaram as sedes dos três Poderes na capital brasileira. Segundo ele, a prisão destas pessoas não fere a liberdade de expressão ou de manifestação, uma vez que houve depredação de patrimônio público.

Vidro do Palácio do Planalto quebrado após a invasão à sede do Executivo promovida por bolsonaristas radicais. Brasília (DF), 8 de janeiro de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 11.01.2023

"A base legal das 1,2 mil prisões não se refere à expressão pública de suas opiniões ou à liberdade de expressão, mas sim às ações que eles alegadamente realizaram. Se eles infringiram a lei, precisam ser punidos", declarou Korybko.

Aliança Biden-Lula contra a extrema direita

Para Korybko, os EUA de Biden e o Brasil de Lula estariam unidos pelo interesse de combater as suas oposições internas de extrema direita, representadas pelo trumpismo e bolsonarismo, respectivamente.

"O diretor de Inteligência Nacional dos EUA [DNI, na sigla em inglês] avaliou, no início de 2021, que 'extremistas violentos com motivação racial ou étnica e milícias extremistas violentas representam as ameaças advindas de extremistas domésticos violentos mais letais para os EUA'", disse Korybko, citando relatório do órgão norte-americano.

Membro de teoria da conspiração favorável a Trump discute com agente de segurança do país durante invasão do Capitólio, em Washington, em 6 de janeiro de 2021 - Sputnik Brasil, 1920, 11.01.2023

Segundo ele, "essas forças estão associadas a elementos da direita, o que confirma a seriedade com que o 'estado profundo' dos EUA encara essa ameaça".

"Esse relatório foi publicado após a invasão do Capitólio, o que leva alguns a especular que há uma politização exagerada da ameaça, com o objetivo de gerar um pretexto para reprimir apoiadores do ex-presidente dos EUA, Donald Trump", sugeriu Korybko.

O analista traça paralelos entre a reação norte-americana aos eventos no Capitólio e a brasileira aos eventos de domingo (8), lembrando a adoção do termo "terrorista" para lidar com os violadores da lei.

"A reação do governo Lula ao incidente de domingo, que o líder recém-reeleito descreveu como uma série de 'atos terroristas', [...] sugere que este governo compartilha da avaliação do DNI dos EUA, de que alguns elementos da direita consistem em ameaça grave ao Estado", explicou Korybko.

Extrema direita internacional

A aliança entre Biden e Lula para combater a extrema direita é reforçada pelo fato de Trump e Bolsonaro fazerem parte de uma mesma rede internacional ultraconservadora. Um dos principais articuladores da extrema direita nos EUA, Steve Bannon, declarou apoio aos atos em Brasília neste domingo em rede social.

Korybko nota que a postagem de Bannon não pode ser considerada uma prova do apoio material do magnata à tomada da sede dos três Poderes em Brasília, mas revela muito "sobre as posições políticas pessoais dele".

"Bannon é conhecido por simpatizar com Bolsonaro e as redes políticas de ambos os líderes estão alegadamente conectadas. Por isso, há motivos para suspeitar que eles tenham laços financeiros", considerou Korybko.

Para o analista, tanto Biden quanto Lula têm o interesse de reforçar as ligações entre Bannon e os incidentes de domingo, a fim de processar judicialmente lideranças de direita de ambos os países por apoio à tentativa violenta de golpe de Estado.

Ex-estrategista-chefe da Casa Branca, Steve Bannon - Sputnik Brasil, 1920, 11.01.2023

"Os governos Biden e Lula poderiam explorar o pretexto mencionado para reprimir suas respectivas oposições de direita", considerou Korybko. "Dito isso, enfatizo que, em qualquer país, qualquer pessoa que tenha infringido a lei e seja considerada legalmente culpada deve ser punida."

EUA entregariam Bolsonaro para Lula?

Apesar da cooperação estreita que Brasil e EUA conduzirão para coibir movimentos extremistas nacionais, Korybko coloca em dúvida a disposição de Washington em entregar Bolsonaro ao governo brasileiro.

"Caso o governo Lula denuncie Bolsonaro – o que não pode ser descartado, considerando a gravidade com que encaram a ameaça à segurança nacional do incidente de domingo – os EUA ficarão em posição desconfortável", acredita Korybko.

Presidente da República Jair Bolsonaro, durante encontro com o Presidente dos Estados Unidos da América, Senhor Joe Biden, 9 de junho de 2022 - Sputnik Brasil, 1920, 11.01.2023

Se por um lado "entregar Bolsonaro a Lula em uma bandeja de prata demonstraria a vontade de ambos os países de lutarem juntos contra o chamado 'terrorismo de direita', por outro, reduziria a confiança nos EUA por parte de atuais e futuros líderes da direita latino-americana", considera o analista.

Bolsonaro parece estar disposto a facilitar o trabalho de Washington e se retirar voluntariamente do país que repetidas vezes declarou admirar. De acordo com o portal UOL, o ex-presidente brasileiro foi convencido pelos seus filhos Eduardo e Flávio a voltar ao Brasil, a fim de evitar o "constrangimento de retornar ao país na condição de extraditado".

O ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro chega à sua casa alugada na Flórida, nos EUA, após deixar hospital, em 10 de janeiro de 2023. - Sputnik Brasil, 1920, 11.01.2023

Já Lula, por sua vez, deve ter cautela ao confiar em seus parceiros norte-americanos durante seu governo. Korybko acredita que os EUA têm forte influência na burocracia estatal brasileira e poderiam orquestrar uma mudança de regime, caso o governo do PT "saia dos trilhos".

"Não podemos descartar a possibilidade de um golpe militar ou golpe pós-moderno, do tipo Operação Lava Jato, ainda no governo Lula", alertou Korybko. "A possibilidade de golpe atuará como uma espada de Dâmocles, limitando a liberdade de Lula para formular suas políticas."

O analista político Andrew Korybko participa de debate em Moscou, Rússia, 11 de março de 2022 - Sputnik Brasil, 1920, 11.01.2023

Neste domingo (8), manifestantes bolsonaristas infringiram a lei brasileira ao invadir a sede dos três Poderes da República, depredando deliberadamente o patrimônio público e os principais símbolos da democracia brasileira. Em resposta, o governo federal decretou intervenção federal na segurança pública do Distrito Federal.






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