Culto à tecnologia e o esvaziamento do ser 

Culto à tecnologia e o esvaziamento do ser 

Jean_Paolo


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Tenho costume de dizer que quando o Pilatos perguntou a Jesus "o que é a verdade?" fez a pergunta mais burra da história da humanidade. Tão burra que Cristo nem se deu ao trabalho de responder. Afinal, o que é possível ensinar ou demonstrar pra alguém que sequer tenha noção do que seja verdade? Todos nós sabemos o que é a verdade. Se não soubéssemos, não seria possível pensar, pois pensar é procurar a verdade sobre aquilo que é pensado. Pilatos deveria ter perguntado algo como qual é a verdade mais essencial? Ou como definir a verdade? Ou até mesmo onde procurar a verdade? Mas perdeu a chance.


📖 João 18:38


Hoje, a ciência tomou para si o emblema de "porta-voz da verdade". Mas será que isto está certo? Eu preciso avisar pra você existem dois tipos de ciência. A primeira é a ciência positivista que é constituída de tudo aquilo que é objetivo, mensurável. Constituída daquilo que dá pra medir pesar, contar, moldar, mexer e etcetera. Toda ciência exata ou tentativa de tornar algo exato e a crença inexoravelmente brega no progresso vem daqui.


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Em segundo lugar nós temos a ciência fenomenológica, na qual aquilo que mede é influenciado pelo que é medido. Ou seja, quem mede e o que é medido são interdependentes. Se influem mutuamente. Justamente por causa dessa percepção a gente consegue incluir algo de subjetivo nessa análise e aqui se inclui a Psicologia, a Filosofia, por exemplo, e as demais ciências que você teria dificuldade de explicar pro seu avô semi-analfabeto do que se trata.


A intersecção entre verdade, conhecimento e crença.


Vamos começar a falar de Epistemologia. Tem algo que me incomoda muito no pensamento científico como um todo: uma enorme falta de autocrítica. Em outras palavras, cientificismo. Um sistema de crenças que atribui à ciência uma suposta capacidade de explicar, prever e controlar tudo... E que se não conseguirmos resolver um problema agora é só porque ainda não deu tempo e um dia a ciência chega lá. Nunca consegui acreditar nisso. Em parte porque cientistas são pessoas (e se você ouvisse isso de uma só pessoa ia soar como muita prepotência). Mas como a "ciência" é uma ideia abstrata, muita gente acredita. Abstrato por abstrato eu fico com a Epistemologia que é uma área da filosofia dedicada a entender como funciona o conhecimento e quais os limites do que é possível saber apenas com sua cabeça.


Sobre Epistemologia


Não creio que a ciência tenha ou possa ter resposta para tudo porque a ciência é um sistema de crenças baseado no método científico. E o método científico é basicamente "tentativa e erro".E nenhum sistema, por melhor que seja, pode abarcar a explicação de toda a realidade porque a realidade toda é grande demais constituída de tudo que existe e muito do que existe não conhecemos, muito já estava aqui antes de nós e muito vai continuar quando a raça humana for embora. Somos parte de algo maior que nós e que não compreendemos. Como está escrito em Primeiro a Coríntios capítulo 13, versículo 12: "Hoje vemos como num espelho, mas um dia veremos face a face". E eu entendo que todo o propósito digno na vida de um homem se resume a enxergar onde ele se encaixa dentro da verdade eterna. Verdade é o que existe e você existe. Portanto você é parte da verdade. Eternamente parcial. Nunca poderá abarcar tudo. Mas é possível ser um com a verdade, se buscá-la... A menos que esteja tentando redesenhar o mundo conforme sua própria imagem e semelhança o que, para quem não sabe, é a própria essência da idolatria.


A Verdade: Deus e o funcionamento do universo em Fullmetal Alchemist Brotherhood (um bom começo para quem quiser entender os fundamentos da Metafísica).


Por que que isso importa? Porque nem todos temos os instrumentos, a instrução, o expertise, os equipamentos e métodos de medição pra entender se o que o especialista, na TV ou na Internet, se o que ele está dizendo é verdade ou não.


Logo, a ciência mensurável não é acessível a todos, apenas àqueles que, por oportunidade ou inclinação natural, são nela iniciados. A ciência fenomenológica, por outro lado, pode ser resumida em prestar atenção no fenômeno, e isso implica pensar sobre esse fenômeno. E todo pensar é pensar sobre algo. Uma intersecção entre o objeto sobre o qual pensamos e como a mente interior o percebe. Em outras palavras: os dados não valem nada se não houver uma mente capaz de interpretar e dar ordem a essa série de informações.


Sugestão de leitura. 📚


A parte importante vem agora: temos demasiados pontos de vista sobre tudo, mas tudo que de fato acontece, por mais estranho e paradoxal que seja, ao acontecer, é verdade... já que verdade é o que existe, lembram? Então devemos separar a verdade que está perto da que está longe! Se é que o que está longe pode ser mesmo tido como verdade. No máximo uma verdade provável. Afinal, aquele que pensa o problema também influencia a probabilidade de um evento acontecer. E as pessoas podem usar verdades prováveis que você não pode verificar, devido à distância, pra moldar o seu comportamento. Uma das coisas que a gente observou muito na pandemia, por exemplo. é que não se controla pandemias, se controla o comportamento das pessoas. E isso é perigoso...


Pandeminions... digo, pandemônios!


Essa ideia de que quem pensa o problema também influencia a probabilidade de um evento acontecer lidando com verdades prováveis é algo matemático, tirado do teorema de Bayes que, trocando em miúdos, pode ser expresso em palavras como: "eu não tenho certeza do que me dizem sobre o que está acontecendo longe de mim justamente pelo fato estar fora do meu alcance de averiguação, certo?" Como é que eu vou ter certeza então se o que eu estou ouvindo dizer de tempos atrás ou de probabilidades futuras ou de lugares distantes, etc, se isso tudo é verdadeiro ou não já que eu não tenho condições de como apurar esses supostos "fatos"?


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Antes de crer em algo chamado científico é interessante lembrar qual a definição do filósofo Wittgenstein sobre uma pergunta muito mais importante do que a de Pilatos... Perguntaram pra Wittgenstein "o que é Filosofia?" no sentido de qual é o conhecimento que constitui a Filosofia, afinal de contas parece que ela estuda um pouco de tudo, né? E a resposta de Wittgenstein foi nada mais nada menos que: "Filosofia são TODAS as proposições primitivas (ou seja, primeiros princípios) assumidos sem provas pelas ciências físicas. É nisso que me baseio para dizer que o alicerce do conhecimento verdadeiro está na "unidade do saber" e não na enormidade de informações (científicas ou não) com a qual somos bombardeados todos os dias. O conhecimento pleno está em entender o fenômeno em sua totalidade, em todos os seus ângulos, e como cada sujeito se relaciona com ele. Afinal, você existe e, portanto, você é parte da Verdade. Infelizmente, o que você diz pode não ser.


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Agora compare com:



Gosto muito dessas duas definições de "fé". Especialmente em dias como os de hoje em que as pessoas não só passaram muito tempo nos obrigando a escolher entre fé e ciência como parecem ter anulado a própria fé diante do medo de viver (que se tornou regra da pandemia de nossa geração).


A ciência positivista baseada em números, testes, repetições e verificações, que é muito importante na hora de testar um microchip ou uma vacina, por exemplo, nunca se deu conta de que o "princípio da verificação" não faz sentido! Novamente, nas palavras de Wittgenstein: "Verificação é só um palpite moderado sobre uma série de observações de que alguma coisa provavelmente vai acontecer, mas os eventos do futuro não podem ser inferidos a partir dos eventos do presente". Eu não posso deduzir o futuro a partir do presente, este é o ponto essencial em Wittgenstein.


Wittgenstein


A pandemia escancarou que o modelo de ciência positivista tem o gravíssimo problema epistemológico de se crer capaz de prever o futuro. E, por isso, quem quer que se travista de ciência arroga para si o direito de decidir, no seu lugar, como você deve viver a sua vida, sem ao menos te consultar sobre isso.

Até alguns colegas meus de esquerda perceberam. Um deles, gente "super do bem", apoiador do PSol inclusive, chegou a afirmar o seguinte: "se o número de pessoas infectadas durante a pandemia vai diminuir ou não a partir do isolamento social... nós nunca poderemos ter certeza se isso já seria parte natural dos picos e declínios da pandemia ou se de fato esse resultado tem a ver com isolamento e lockdown". E este momento de lucidez que meu colega teve é fundamental: você pode apresentar quaisquer números mas precisa entender que ciência não prevê futuro, só probabilidades e possibilidades!

Todos nós: positivistas científicos, negacionistas paranóicos e quem não faz parte de nenhum desses dois grupos, estamos, TODOS, agindo por fé!


Mas é possível ter fé em algo que você sabe que existe? Sim, claro que é!

Chesterton dizia que "O senso comum é nossa filosofia mais preciosa". O mesmo Chesterton foi profético ao dizer que "chegaríamos a um dia em que teríamos que provar que a grama é verde".


Chesterton


A verdade não vem apenas do método científico, e nem poderia: ninguém de todo o tempo do mundo para testar todas as proposições que ouve e testar sua verossimilhança a partir de testes empíricos. Conhecimentos relacionais, lógico-matemáticos ou econômicos, por exemplo, não são científicos. Também vimos que a ciência não tem poder de prever o futuro, só de analisar possibilidades, mais ou menos prováveis, de acontecer. Vimos também que conhecimentos científicos avançados não estão ao alcance de pessoas comuns, não podem ser confirmados ou refutados por estas pessoas comuns. Em algumas situações, justamente, por falta de compreensão e de aparato técnico para aferir e entender o que se está aferindo. Difícil é viver num momento em que você tem que tomar decisões baseado em coisas que não consegue entender.


Ninguém pode decidir por você qual é a melhor escolha porque somente cada indivíduo pode pesar o que é melhor para si e suas condições e qual preço está disposto a pagar. Como está explicado em Tiago Capítulo 4 Versículos 13 ao 16: "o futuro só a Deus pertence".


Desassociar o conhecimento científico do hermetismo e do conhecimento do ser não é só caminho tanto para o totalitarismo, irresponsabilidade e para problemas mentais, é também o caminho para nossa própria desumanização. Triste pensar que passamos por duas guerras mundiais, e talvez uma terceira se aproxime, e ainda não entendemos que o cientificismo e a fé amoral na tecnologia não devem ser nossos deuses.


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