Contagem regressiva para revanche peronista nas eleições argentinas

Contagem regressiva para revanche peronista nas eleições argentinas

www.em.com.br - Estado De Minas

postado em 23/09/2019 04:00

(foto: AF Press Office/AFP)

"Farei um governo de 24 governadores com um presidente, porque precisamos construir essa Argentina federal"

Alberto Fernández, candidato da oposição peronista à presidência

É em clima de espera pelo inevitável que governo e oposição iniciam nesta semana a fase oficial de campanha pela tevê para a eleição presidencial de 27 de outubro. Embora restem cinco semanas, a posição do desafiante Alberto Fernández, da oposição peronista, se mostra tão sólida que a equipe do presidente Mauricio Macri, candidato à reeleição, parece resignada a traçar estratégias para mitigar a derrota. Em uma pesquisa divulgada ontem pelo instituto Ceop, Fernández aparece com 52,6% das intenções de voto, contra 34,3% de Macri – mais do que o suficiente para liquidar a fatura no primeiro turno. A situação é ainda mais definitiva do que a que emergiu das primárias obrigatórias de agosto, em que a chapa peronista saiu das urnas com 49,5%, contra 32,9% dados ao presidente.

A confiança no comitê peronista é tão grande que Fernández desembarca amanhã em Mendoza, na fronteira com o Chile, para investir em uma virada na eleição regional de domingo. As pesquisas confirmam o favoritismo do candidato em tese alinhado com Macri, o prefeito de Mendoza, a capital provincial, Rodolfo Suárez. Com 48% a 50%, ele lidera com folga as intenções de voto contra a peronista Anabel Fernández, ligada à corrente peronista do candidato presidencial e da candidata a vice, a ex-presidente Cristina Kirchner. Anabel oscila entre 33% e 35%.

Mendoza, uma das três grandes cidades do país, atrás de Buenos Aires e de Córdoba, não seria um alvo preferencial da campanha presidencial da oposição, não fosse pela vitória de Alberto Fernández nas primárias de agosto – em que o voto é obrigatório, e por isso mesmo faz delas um termômetro eleitoral. Suárez, o favorito, pertence à União Cívica Radical (UCR), aliada de Macri no governo federal. Os dirigentes locais da UCR minimizam os riscos de derrota para o peronismo, mas deixam entrever as dificuldades que o presidente deve enfrentar quando for ele o nome na cédula, dentro de cinco semanas. “Você viu algum de nós fazendo campanha para Macri nas primárias?”, comentou um prefeito da região metropolitana da capital.

(foto: Norberto Duarte/AFP)

"Podemos criar empregos sem deixar de perseguir as máfias que buscam comprar o Estado e subjugar a sociedade"

Mauricio Macri, presidente da Argentina e candidato à reeleição

FEDERALISMO

Alberto Fernández escolheu Mendoza como cenário para a largada da campanha presidencial propriamente dita, entre outros fatores, pela determinação de construir desde logo uma base política para governar na base cultivada há décadas pelo peronismo. À parte as divisões internas, o Partido Justicialista (PJ), fundado há 75 anos pelo caudilho Juan Domingo Perón, mantém a posição predominante nos governos regionais. Não por acaso, quando se lançou candidato pela Frente de Todos, a corrente do PJ ligada a Cristina Kirchner, Fernández anunciou que faria “um governo de 24 governadores com um presidente, porque precisamos construir essa Argentina federal que nos faz falta”.

Macri traça uma estratégia pelo caminho oposto, na esperança de reverter a desvantagem exposta pelas primárias de agosto e pelas últimas pesquisas. Ao fim de uma reunião com os 24 responsáveis pela campanha nas províncias, o presidente definiu 30 centros urbanos, entre eles algumas das cidades mais populosas do país, onde sua coalizão, Juntos pela Mudança, amargou retrocessos. O chefe de gabinete da presidência, Marcos Peña, cobrou dos correligionários uma campanha à moda antiga, no lugar da opção virtual adotada nas primárias. “Vamos tomar as ruas. Temos de buscar de novo a proximidade física com os eleitores”.

Sem desprezar as redes sociais, o presidente lançou a hashtag #SíSePuede para convocar a militância a uma semana de mobilização. Em especial, o alvo é causar impressão no próximo sábado, com uma marcha em Buenos Aires. “A eleição ainda não aconteceu”, insistiu o presidente, no esforço de animar os correligionários. Consciente de que pesam sobre ele os maus resultados da economia, Macri convocou os aliados a levar para as urnas, daqui a cinco semanas, os que ficaram em casa nas primárias de junho. “Podermos ter uma economia sadia sem abandonar a transparência nos atos do governo, o que é exatamente o contrário da corrupção”, afirmou. “Podemos criar empregos sem deixar de perseguir as máfias que buscam comprar o Estado e subjugar a sociedade.”

ANÁLISE DA NOTÍCIA

Reeditando o caudilho

A história do justicialismo, uma corrente política de raiz carismática, mas igualmente com uma trajetória de reciclagens e mimetismos, alimenta especulações frenéticas sobre o papel reservado a Cristina Kirchner no possível governo de Alberto Fernández. O candidato a presidente da Frente para Todos foi chefe de gabinete de Néstor Kirchner, marido e antecessor de Cristina. Construiu com o casal K, como é chamado nos meios políticos argentinos, uma relação de confiança, embora tenha se distanciado da hoje companheira de campanha quando ela assumiu a Casa Rosada, em 2008.

Aos olhos dos adversários, a chapa Alberto e Cristina reedita a manobra pela qual o patriarca do justicialismo, o caudilho Juan Domingo Perón, pavimentou o caminho de volta ao país ao fim de 18 anos de exílio. Ao fim de um dos vários períodos de governo militar, o general Alejandro Lanusse convocou eleições, em 1973. Perón, que vivia na Espanha, estava inabilitado, mas o justicialismo lançou como candidato Héctor Campora.

A vitória foi assegurada com o lema informal da campanha: “Campora no governo, Perón no poder”. Empossado em maio, o presidente eleito anistiou o caudilho, que retornou ao país em julho. Campora e o vice renunciaram prontamente e convocaram novas eleições em setembro, nas quais o velho general retornou à Casa Rosada, tendo como vice a segunda mulher, María Ester Martínez, conhecida como Isabelita.

Cristina era cotada para encabeçar a chapa peronista para as eleições de 27 de outubro até que anunciou, de maneira surpreendente, a decisão de ser a vice na chapa de Fernández. (SQ)

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