Brasil diversifica exportações, ultrapassa US$ 339 bilhões e 'bate recorde', diz Jorge Viana (VÍDEO)

Brasil diversifica exportações, ultrapassa US$ 339 bilhões e 'bate recorde', diz Jorge Viana (VÍDEO)

Davi Carlos Acácio | Ludmila Zeger | Angélica Fontella
© Marcelo Camargo/Agência Brasil

Destaque como player no comércio internacional, o Brasil começou 2024 como terminou 2023: batendo recordes. Em entrevista exclusiva à Sputnik Brasil, Jorge Viana, presidente da ApexBrasil, falou sobre o trabalho desenvolvido pela instituição junto da presidência para impulsionar o país no segmento.

"As exportações brasileiras chegaram a US$ 339,7 bilhões (R$ 1,89 trilhão) em 2023 e, apenas no primeiro semestre deste ano, exportamos US$ 167,6 bilhões (R$ 936,62 bilhões)", conta Viana sobre os valores inéditos alcançados pelo Brasil.

O presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) ressalta que o sucesso passa pelo trabalho que conta com a diplomacia presidencial e esforços do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), do Ministério das Relações Exteriores, do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) e da própria ApexBrasil.

© Sputnik

O novo cenário, de "reconquista de espaços perdidos, reaproximação de parceiros comerciais antigos e criação de novos laços, explorando novos mercados no mundo todo", garantiu também à agência uma marca importante: 17.061 empresas foram apoiadas em 2023, um aumento de 21% em relação ao ano anterior.

Além disso, a ApexBrasil participou de mais de 1.000 eventos (média de 3 por dia) no Brasil e no exterior, "com destaque para os fóruns empresariais no marco de visitas do presidente Lula a outros países", disse Viana.

Conforme divulgado no Impulso das Exportações, o Brasil é um dos principais destinos de investimentos estrangeiros diretos (IED).

"Apenas no primeiro semestre de 2024, foram 186 anúncios de investimentos, que somam um valor de US$ 28,5 bilhões (R$ 159,27 bilhões). Esse resultado demonstra um crescimento médio de 29% a cada semestre e já representa 74% dos investimentos anunciados em 2023", conta o presidente da agência.

Os principais setores que receberam anúncios em 2024 foram: automotivo, com US$ 14,2 bilhões (R$ 79,36 bilhões); seguido pela fabricação de papel, US$ 4,6 bilhões (R$ 25,71 bilhões); geração de energia elétrica por biomassa, US$ 1,4 bilhão (R$ 7,82 bilhões); serviços de processamento e hospedagem de dados, US$ 1,3 bilhão (R$ 7,26 bilhões).

Negócios entre Brasil e China superam a casa dos US$ 100 bilhões

As exportações para a China alcançaram, em 2023, US$ 105,75 bilhões (R$ 590,97 bilhões), com um aumento de 16,5% em relação a 2022. Essa é a primeira vez na história do comércio exterior brasileiro que as exportações para um único parceiro ultrapassam a casa dos US$ 100 bilhões.

"Desde o início do século, existe uma tendência de deslocamento do eixo da economia global para o leste asiático. Com o forte crescimento chinês e dos países da ASEAN ocorreu naturalmente um forte incremento da corrente de comércio do Brasil com essa região", explica Viana.

De acordo com o presidente da Apex, a China é, atualmente, o oitavo maior investidor na economia brasileira, sendo o líder entre os países asiáticos. Entretanto, o número pode estar subestimado.

"Muitos investimentos [chineses] são articulados via Hong Kong. Com isso, algumas análises apontam a China como um dos três maiores investidores no Brasil".

Em queda em 2023, comércio brasileiro com os EUA e a UE voltou a crescer em 2024

Se os negócios com a China alavancaram em 2023, o Brasil viu o comércio com os EUA sofrer queda de 1,5% e com a União Europeia de 9,1% no mesmo ano.

O primeiro semestre de 2024, porém, aponta para um novo crescimento, comenta Viana.

"Conforme divulgamos no Impulso das Exportações, as vendas brasileiras cresceram 12% para os Estados Unidos e 2,1% para União Europeia".

Apesar das nuances, o presidente da Apex destacou, ainda, que "os parceiros tradicionais permanecem como grandes investidores, com Estados Unidos e países europeus à frente do ranking de países com maior estoque de investimento direto (IED) no Brasil".

Brasil foi o terceiro principal fornecedor dos países da América Latina e Caribe em 2023

Segunda economia da América do Sul, a Argentina segue sendo a principal parceira comercial do Brasil no continente. Mesmo com as tensões políticas e em um cenário de crise econômica e de recuo da demanda, "nossos vizinhos foram o terceiro principal destino de nossas exportações, posição que manteve no primeiro semestre de 2024", comenta o presidente da ApexBrasil.

"O mercado argentino também é importante por importar do Brasil bens de alto valor agregado, o que evidencia a importância da Argentina para a indústria brasileira, destacadamente o setor automotivo. Nesse sentido, ao se comparar os seis primeiros meses de 2023 e 2024, é observada uma queda nas exportações brasileiras ao país vizinho de 37,6%", acrescenta Viana.

Já com relação aos outros países da América Latina e Caribe, O Brasil alcançou, em 2023, o posto de terceiro principal exportador. Foram US$ 63,9 bilhões exportados, aproximadamente 4,5% da fatia do mercado da região, ficando atrás apenas dos EUA e da China.

"Somos o principal fornecedor de muitos países latino-americanos, como Colômbia (6,4%), Venezuela (10%), Peru (7,2%), Chile (11%) e República Dominicana (3,9%)", informou.

Viana destacou, ainda, que esforços de cooperação para a ampliação do comércio na região estão sendo desenvolvidos. Segundo ele, em missões presidenciais ao longo dos últimos meses, com a participação efetiva da ApexBrasil, foram realizados encontros empresariais na Argentina, Bolívia, Colômbia e Uruguai.

Para agosto também há previsão de missões nesta seara para o Chile, onde, conforme o mandatário da agência, haverá discussões sobre temas que envolvem o comércio entre os dois países.

Trocas comerciais entre Brasil e Rússia superaram patamar histórico em 2023

Os negócios entre Brasil e Rússia ultrapassaram a casa dos US$ 10 bilhões (R$ 55,88 bilhões) no ano passado. O impulso comercial decorreu, de acordo com Viana, do aumento das importações brasileiras de fertilizantes, óleo diesel e outros derivados de petróleo, insumos indispensáveis para o agronegócio.

Por outro lado, segundo o presidente da ApexBrasil, "as exportações brasileiras para a Rússia diminuíram e estão no seu patamar mais baixo dos últimos vinte anos".

Isso se deve, segundo ele, a dificuldades como a diminuição das opções logísticas para o envio de produtos para a Rússia e opções disponíveis para empresas russas efetuarem pagamentos aos seus fornecedores brasileiros, situações afetadas pelas sanções ligadas ao conflito na Ucrânia.

"São os dados da realidade, mas estamos atentos para, o mais rápido possível, retomar a participação do Brasil nas feiras e eventos internacionais na Rússia por se tratar de um mercado importante para as exportações brasileiras", ressalta.

A Rússia segue, portanto, sendo estratégica para o Brasil. A ApexBrasil, por exemplo, mantém há 15 anos um escritório em Moscou, responsável por atender também outros países da Eurásia.

"Apesar dos desafios dos tempos atuais, o trabalho de promoção segue ativo e focado em todos os países euroasiáticos, não só da parte europeia, mas também das regiões da Ásia Central e do Cáucaso", destaca Viana.

Na região, além do setor agrícola, segundo o presidente, a agência tem trabalhado em projetos ligados a setores de alto valor agregado, como autopeças, equipamentos agrícolas, produtos e soluções agroveterinárias, equipamentos médicos e dispositivos odontológicos.

Outro fator interessante da parceria entre as nações é a possibilidade de atração de investimentos para o Brasil. Nesse quesito, Viana afirma que o governo brasileiro se esforça, historicamente, para envolver os fabricantes de fertilizantes da Rússia e Belarus em projetos de infraestrutura no Brasil.

"Sobretudo, em instalações portuárias, conexões ferroviárias e estruturas de armazenamento. São setores naturais inclusive para a expansão dos negócios dessas empresas no Brasil, que é um mercado promissor e estratégico para a maioria delas".

Expansão do BRICS poderá contribuir para reformar a ordem econômica internacional

A entrada de Egito, Etiópia, Arábia Saudita, Emirados Árabes e Irã no BRICS pode ajudar "em sua capacidade negociadora para reformar a ordem econômica internacional", diz Viana.

Do ponto de vista do comércio brasileiro com os novos membros, não deve haver impacto imediato, embora crie um ambiente mais favorável para investimento e favoreça a cooperação.

"A expansão do bloco poderá impactar positivamente a capacidade de investimento do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), o 'Banco do BRICS', que poderá ser um vetor para investimentos, em especial da China e de fundos árabes, em infraestrutura e transição energética".

Viana comenta também os esforços do governo brasileiro para um acordo entre Mercosul e União Europeia. Segundo ele, o governo entende que há espaço para a parceria que pode contribuir para o crescimento do PIB nacional e aumento dos investimentos. Mas sublinha que o país também olha para outras direções.

"O acordo com a União Europeia não é a única ação na estratégia brasileira de aumentar sua participação no comércio mundial", afirma, explicando que a diversificação dos destinos das exportações é um objetivo da ApexBrasil.

"O Brasil, por meio do Mercosul, assinou acordo de livre-comércio com Singapura em dezembro de 2023, negocia com Coreia do Sul, Indonésia e Vietnã, além de ter aberto mandato negociador com os Emirados Árabes Unidos".

'Aprofundamento das relações com o continente africano é uma das prioridades da ApexBrasil'

"Ao Brasil interessa ampliar seu comércio com todas as regiões, exercendo o universalismo tradicional de sua política externa, o que reduz riscos e aumenta a resiliência da economia nacional a eventuais choques externos", explica Viana.

Nesse quesito, ele afirma que o continente africano, onde as exportações brasileiras cresceram 21,4% no primeiro semestre deste ano (aumento de US$ 7,3 bilhões, ou R$ 40,7 bilhões), é uma das prioridades da ApexBrasil.

"Com 54 países e 1,4 bilhão de pessoas, a África é o segundo continente mais populoso e tem a maior taxa de crescimento populacional, indicando um mercado consumidor em forte expansão. Tomada em conjunto, a África é o quarto principal destino das exportações brasileiras. Assim, a África não pode estar de fora da estratégia comercial do Brasil", ressalta.

Por essas razões, o presidente da agência conta que, após a ApexBrasil ficar cinco anos afastada de grandes eventos comerciais africanos, volta a marcar presença no continente, em especial em diferentes encontros que acontecem entre os meses de junho e setembro.

"A Agência também volta a promover missões empresariais do outro lado do Atlântico, com a Brasil-Africa Solutions e a Missão Empresarial à África 2024, que passará por Namíbia, Botsuana, Moçambique e Tanzânia. A Brasil-Africa Solutions movimentou impressionantes R$ 104,8 milhões em negócios para empresas brasileiras, somando as vendas imediatas e as esperadas para os 12 meses subsequentes, o que mostra o pragmatismo de nosso retorno à África", contextualiza.

Brasil trabalha para recuperar imagem de excelência industrial

A ApexBrasil tem como meta, conta Viana, aumentar o número de empresas exportadoras e também apoiar a neoindustrialização.

Em relação à recuperação das exportações de produtos industrializados brasileiros, que perdeu espaço nos últimos anos, o presidente da agência aponta que o Mapa de Oportunidades da instituição identificou 10.269 oportunidades de consolidação para as exportações brasileiras no mundo.

"Alguns dos setores que aparecem com destaque entre as oportunidades são máquinas e equipamentos para a geração de energia, máquinas em geral e equipamentos industriais, veículos rodoviários, calçados, produtos farmacêuticos e medicinais, plásticos, móveis, entre outros", revela.

Para fomentar as exportações nos referidos setores, Viana afirma que a agência vem trabalhando através de projetos setoriais, parcerias de cooperação técnico e financeira com mais de 30 setores da indústria brasileira.

Como exemplo, ele aponta a parceria com a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (ABIMAQ), que tem o intuito de fortalecer a presença internacional do setor de máquinas e equipamentos.

O projeto, segundo ele, proporciona a participação de empresas brasileiras em eventos internacionais, traz visibilidade ao setor e posiciona o Brasil como um importante player industrial, de tecnologia e qualidade avançadas.

Além desses esforços, Viana imputa enorme importância para a volta da "diplomacia presidencial".

"Um exemplo claro disso é que, no primeiro semestre deste ano, as exportações de aeronaves cresceram 22,3%", argumenta.

Segundo o presidente da ApexBrasil, as ações de promoção comercial complementam iniciativas para cumprir com o que tem sido chamado de neoindustrialização, visando melhorar a competitividade do setor industrial brasileiro.

Nesse quesito interno, o Brasil já apresenta ganhos: "No primeiro trimestre de 2024, o país registrou produção industrial acima da média mundial e saltou 15 posições no ranking global, figurando agora entre os top 50", afirma.

Outro ponto destacado pelo líder da agência foi o recorde batido pelo Brasil, que atingiu seu maior nível de utilização da capacidade instalada da indústria em dez anos, conforme um levantamento da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

"As ações de apoio às exportações da indústria são fundamentais para posicionar o Brasil como fornecedor de produtos de alto valor agregado, superando a visão de que o país é apenas um fornecedor de commodities e alimentos e bebidas. Por exemplo, temos o setor de revestimentos cerâmicos, em que hoje o Brasil é o 3º maior produtor mundial e 6º maior exportador, estando entre os principais players internacionais", informa.

Viana destaca ainda que fortalecer a economia brasileira e aumentar sua participação no mercado global passa pela promoção de uma imagem de excelência industrial.

"Com essas estratégias, a ApexBrasil busca expandir e diversificar as exportações brasileiras, garantindo um crescimento sustentável e inovador para a indústria nacional", finaliza.


























































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