As Fragatas

As Fragatas

LeviS

fragatas ardentes, cinzas esvoantes, fuligem da linha do horizonte até o litoral. as embarcações queimam e se retorcem, atingidas, sentem dor. muitos dos meus meninos lançados à própria sorte, engolidos pelas ondas escuras do mar bravio, sim, muitos deles de pele igual à minha. agora recostam sob o fundo do oceano, nenhuma luz jamais voltará à encontrá-los...

e no entanto, me pedes para encontrar teu filho, teu único filho, que como o covarde corajoso que é lançou-se nessa batalha rumo à própria morte. pensas do teu filho como doce, mas como ele é turvo, turvo, turvo! e agora atira-se contra a maré, incapaz de enfrentar o próprio porvir...

como o desprezo, sendo tão forte ainda que tão fraco, tão poderoso ainda que tão pequeno. não vês que ele esconde-se sob a saia da mãe, como uma criança? o mar não é como a terra, os mortos nunca tem um enterro digno. as águas não são lugar de lápide.

e no entanto, teu filho declara guerra e lança-se ao mar... carregando consigo muitos dos meus meninos...

daqui os escuto e por eles eu lacrimejo. benzerei as águas para que suas almas - ainda que encharcadas - encontrem a paz. mas do teu filho eu sinto o sangue ardente. seu coração ferve mais que a água queimada... as profundezas o rejeitam, as árvores que crescem no mar o rejeitam, os animais que nadam no mar o rejeitam.

salvarei o teu filho da imensidão das águas, as ondas os carregarão para a costa. o encontrará nu sob a areia da praia, o pulmão banhado de água salgada... vamos, trata de abraçá-lo e de trazê-lo junto à ti. eu lamento meus meninos e vejo suas embarcações em fogo vivo...

respeita esse nosso acordo, valoriza essa nossa barganha. tu não lançará mais meus meninos nos tempestuosos mares, demasiado longe de casa... não faz mais guerra sob o custo do sofrimento deles. e teu filho viverá novamente... mas lembra-te. o destino não é enganado duas vezes. é necessário restabelecer as órbitas dos planetas. o fluxo de energias... teu filho terá um filho, e quando ele tiver a idade do pai, as águas o tomarão dele. elas são sedentas, não aceitam que mexam com elas...

agora vá! teu filho, sob a areia da praia, próximo aos rochedos. cuida de aquecê-lo com pão, gengibre e chá de cidreira! ó, céus... desastre, desastre, desastre!

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