Artista critica modelo 'colonial' dos EUA em mural gigante em São Paulo (VÍDEO)
Guilherme CorreiaO maior mural já pintado por Mundano, um dos principais artistas de rua do Brasil atualmente, vai além de um alerta sobre a emergência climática.
A obra, localizada em um prédio próximo à avenida Paulista, em São Paulo (SP), expõe o impacto destrutivo de um sistema econômico que, segundo ele, enriquece poucos às custas de muitos — com um dedo apontado diretamente para os Estados Unidos.
Usando pigmentos retirados de tragédias ambientais, como cinzas das queimadas na Amazônia e lama das enchentes em Porto Alegre (RS), Mundano denuncia a lógica colonialista que ainda predomina na exploração de recursos naturais. "Estamos vivendo um modelo em que os lucros bilionários acabam nos Estados Unidos, enquanto os impactos ambientais, sociais e econômicos ficam aqui. É um desequilíbrio brutal", disse à Sputnik Brasil.
"Esse mural é um pedido para parar a destruição. Usamos materiais que contam histórias de violência ambiental e resgatam a ancestralidade dos pigmentos naturais, como terra e carvão, usados desde as pinturas rupestres."
O mural, com mais de 1.500 metros quadrados, não apenas resgata a ancestralidade dos pigmentos naturais, mas também expõe as contradições de uma economia global liderada por potências como os EUA.
"Recursos naturais são extraídos daqui, violando direitos humanos e devastando biomas, enquanto o lucro vai para o Hemisfério Norte. É um modelo que perpetua a desigualdade e o colapso ambiental."
O artista e sua equipe escreveram no mural os nomes de 20 bilionários ligados à maior empresa agroindustrial do mundo, a Cargill, com sede nos EUA.
Os nomes eram apagados após serem fotografados, em um apelo para que essas lideranças assumam a responsabilidade pelo impacto ambiental de suas cadeias produtivas. "Eles prometem mudanças, mas continuam promovendo destruição. Estamos aqui para cobrar essas promessas."
O trabalho foi executado em 15 dias, com a colaboração de cinco artistas e o uso de oito elevadores elétricos para atingir toda a extensão do prédio. O projeto enfrentou desafios como tempestades e calor intenso, mas Mundano ressalta a importância da mensagem. "Se conseguimos pintar algo tão grande com lama e terra, o que os bilionários não conseguem fazer para mudar o mundo?"
Para Thiago "Mundano", há uma relação intrínseca entre humanidade e natureza.
"O que estamos promovendo é uma autodestruição a troco de dinheiro, mas não se come dinheiro, não se bebe dinheiro."