A quantas anda, oh jornada?

A quantas anda, oh jornada?

Wil the Ancient Mariner.

Não é de hoje que estamos passando por esse grande processo. Bem, a vida aqui nesse plano é um grande processo, como sabemos. Parece durar uma eternidade, toda a vida, mas passa em um minuto. No segundo que a gente entende que ela acaba, começamos a viver. Nada como a morte, ou a mera ideia da morte, para dar sentido à vida.

Faz dois anos que a gente entrou em casa sem saber quando e como, até mesmo se sairia. Parece que foi ontem, parece que foi em outra vida. Parece que cruzamos um mundo, mas foi só uma senda, entre muitas.

Trazemos uma bagagem e tanto. Com muito do que foi e muito mais do que tinha sido antes de tudo. Mas temos destinos muitos diferentes agora. Itinerário nenhum se manteve. Rota nenhuma é a mesma.

O mundo está muito maior. Nós também estaríamos, não fosse a inexorável consciência do nosso tamanho frente as forças da vida, após tudo isso aí que rolou. Mas isso não muda nada. Um albatroz, sozinho, dá a volta ao mundo. Porque você não pode pegar seu caminho?

A ideia de jornada, de grande travessia, de navegar no mar da criação parece ficar muito mais forte nesses tempos em que Júpiter e Netuno estão, de caso pensado, alargando nossos horizontes e aproximando nossos sonhos. Um oceano, dois até. Um de sonhos e outro de vontades. Um de planos e outro de paixões. Dois planetas que transbordam, que inundam, que ajudam a sonhar, sorrir e devanear. Cada um com um talento especial de iludir.

Por um lado, Júpiter é mestre em prometer, nos deixar eufóricos e, no final, não cumprir exatamente aquilo que prometeu, mas deixar um de seus caminhos e bênçãos aos nossos pés. Netuno, quando fala, parece que é uma coisa e quando vai ver é totalmente outra.

Mas, pelo outro lado, aqui nesse mundo, nunca nada é percebido realmente de forma direta. A gente vê os reflexos, as imagens. E aí sabe, aí entende. A gente vê reflexos, imagens e formas, porque a gente acha que enxerga para fora, mas na verdade só consegue ver para dentro. Todas as fantasias e ilusões que acabam, revelam desejos reais cujas histórias só estão começando. A fantasia é uma semente da realidade. Devidamente colocada em solo fértil e bem cuidada, faz o sonho dar em árvore, o dinheiro em penca.

Quando um planeta promete, ele talvez não entregue aquilo que esperamos, mas certamente nos mostra claramente o que queremos. A partir daí é uma grande dose de esforço, pois Netuno, Júpiter, Vênus e Lua podem prometer o quanto quiserem, mas aqui quem manda é o Saturno. A gente enxerga o que quer. Querer é poder. Aliás, mais uma frase muito mal compreendida. E poder é agir. É fazer. É fazer a vontade executar a realidade. É formar fora o fogo da criação que queima dentro onde apenas cada um sabe.

Um oceano de ideias, outro de sonhos e mais um de paixões, ou pelo menos o desejo delas. Eu sinto o mundo afogado nesses oceanos, procurando um vento, uma corrente, um albatroz que dê rumo, que ordene tudo isso a um lugar seguro onde a semente pode vingar. Mas não tem. Caminho seguro é velho e mesmo que fosse possível, talvez não quiséssemos. São essas ideias, sonhos e paixões os próprios rumos de agora, de amanhã e para amanhã. O mundo não é mais o que foi e quanto mais a gente arriscar em ser o que a gente realmente é, mais ele será nosso de verdade.

Tem uma luz brilhando. Tem um fogo queimando. Em cada um.
Eles não são ilusões, eles são combustíveis.

A travessia da tormenta acabou. A jornada recomeçou. A vida não espera, ela continua. Sempre continua.

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