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Permaneço preso nessa maldita dança eterna. Direciono todo o ódio em meus pés, dançando em meu próprio sangue e me ferindo ainda mais em plena esperança de curar a ferida interna que o ser promíscuo causou em meu ser, ferindo minha alma. Desconto tudo o que penso e sinto em movimentos calculados, que aparentam leves e aos olhos de quem vê, completamente sensível e apaixonado pelo o que faço. Mas sequer sei o que é dançar por puro prazer á séculos, me tornando um mero boneco de satisfação ao diabo e dançando aos olhos daquele ser sujo para o agradar, estando fadado a isto desde que me entreguei á ele e sequer vejo uma fuga para tal maldição.


Satã ri de minha desgraça, estilhaça aos poucos o resto de humanidade que sobra em mim e ainda me derruba no chão, numa ordem silenciosa para que eu implore mais uma vez por piedade e alimento, até quando terei de aguentar essa maldita condição? Lúcifer me observa com nojo, e apesar de tal sentimento ser recíproco, ainda me deixa angustiado. Afinal aqueles olhos que me encaravam como se eu fosse um escravo, anteriormente me observou com luxúria, desejo, como se eu fosse o ser mais perfeito desse mundo para se possuir.


O cão me ameaça mais uma vez, se perguntando em voz alta se deveria ou não corrigir novamente a forma em que eu deveria dançar e me portar em frente dele. Me chama de bonequinho frágil, uma porcelana que apenas com uma torção quebraria, e uma sequência de palavras se inicia e é necessário que eu segure o choro. Maldito, me segurou o queixo enquanto analisava o quão pálido eu já estava pela a escassez de alimentos, a falta de vida e esperança em meu olhar, sorrindo perverso por toda a trajetória que ele mesmo criou para me deixar naquele estado.


Ele me larga e apenas um pedaço mal passado de carne é jogado para mim. Comi, irracional pela fome, me humilhando pelo mínimo para suportar a próxima dança, comendo aquele pedaço que satisfez pouca porcentagem da minha fome como se fosse o último. O diabo some de minha visão, e é nesses momentos que escolho me deitar no chão duro e gelado, fechando os olhos em busca de um breve descanso, ainda sim, pronto para me pôr em pé novamente quando o tinhoso bem entendesse que queria ver um novo espetáculo, e voltando a me mover de forma tão artística por aquele grande salão completamente branco e agora preenchido pelo o meu choro alto, completamente em agonia e sem esperança.

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