Nu

Nu

Mal

Ontem eu me despi.

Me despi de uma maneira que nunca tinha feito antes.

Não tô falando de ficar pelado do seu lado, e sim de estar frágil, reconhecer isso e permitir que me visse assim. Não foi nada fácil. NADA!

Namorada

Mesmo estando naquele estado alterado eu não queria fazer você suportar mais do que já suporta. Não queria fazer de você uma muleta. Na verdade eu só queria fugir... Correr pra bem longe.

E agora que já me mostrei nu, vou fazer o serviço completo...

Sobre o que acontece...

E como se desse um grande nó no estômago e eu sentisse um calor subindo enquanto meus órgãos se embaralham e trocam de lugar. Quando esse calor atinge a garganta, dá a impressão de que tem um sapo ali parado querendo sair e vem a angústia devastadora.
Começam então os questionamentos:

  • O que você tá fazendo?
  • Tu acha que vale alguma coisa?
  • Que sentido tem a sua vida?
  • Tem realmente que estragar a vida da sua família?
  • Por que não liberta eles pra seguirem em frente?

E começa então uma batalha épica dentro de mim. O médico e o monstro... O lobo e o cordeiro... Yin e Yang... A emoção e a razão...

Um lado me arrasta numa espiral descendente pro fundo do poço enquanto a outra tenta argumentar (até agora de forma satisfatória) que nada daquilo é completamente verdadeiro se eu não aceitar.

No final, o que resta são cacos. Eu fico completamente destruído tamanho o esforço pra não deixar o monstro vencer. Perda de foco. Completamente sem forças. Não conseguiria argumentar com uma mosca.
Passaram-se horas do evento e eu ainda sinto seus efeitos. Cabeça dói, mente lenta, corpo parece estranho (incrível que ameniza até a dor no ombro) e a vergonha de ter estado nu.

Sozinho

Quando estava sozinho ou longe de vocês, eu tinha que dar meu jeito e vocês não tinham que ver e nem passar por isso. Eu não dizia nada do que acontecia. Apenas pedia pra você mandar mensagem pra eu te ouvir, vídeo de bom dia da nossa filhota ou que você me ligasse.

Nesse meio tempo, ficar no nosso quarto de tornou um meio de tortura. Tentei dormir. Apenas tentei. Depois de 3 dias em claro e só com o conforto do seu cheiro na minha camisa que você tinha usado pra dormir. Resolvi dormir na cama da nossa filha e funcionou bem no primeiro dia.

Eis que vem a festa de aniversário dela e me preparo pra "fazer parte" virtualmente. Tomo banho, me penteio e aguardo... Esperei e não sei quanto tempo depois eu acordo desesperado quando vi a quantidade de notificações e ligações perdidas. Me senti um lixo naquele momento. Esperei tanto e não consegui resistir ao cansaço de esperar algumas horas pros parabéns.

Naquele dia outra batalha campal aconteceu e a razão prevaleceu. Conversamos e você me pediu pra fazer umas listas... De coisas que eu sentia falta em você, de coisas que eu achava que você sentia falta em mim e de coisas que deveríamos fazer juntos com nossa filha. A lista conseguiu fazer minha mente focar e eu consegui relaxar e dormir.

A volta pra casa

Dias depois você disse que ia voltar mais cedo pra casa. Foi um misto de felicidade e desespero. A seu pedido, estávamos dando um tempo e depois de tudo que aconteceu, o que eu mais queria era um abraço.
Eu fui até a estação onde iriam desembarcar e estava esperando vocês. Busão chega. Vejo vocês desembarcando de longe. Você vai pegar as malas e nossa filhota olhando pros lados com um guarda-chuva na mão. Começo a me aproximar e ela me vê. "Papai!" ela grita. vou até ela, me abaixo e recebo um longo e gostoso abraço apertado. Falo baixinho no ouvido dela "Feliz Natal, filha... e feliz aniversário! 7 aninhos...".
Me levanto e ando até você e mantenho uma boa distância como havia prometido ao seu pedido. Você estava ali parada... Linda...
Se estivesse sem os óculos escuros, talvez visse que meus olhos diziam "Me abraça... Eu preciso...". E por me conhecer tão bem, você esticou o braço e fez um sinal com a mão indicando um "vem cá". E eu fui... E abracei... E senti seu cheiro... E você retribuiu o abraço... Eu não queria que aquele momento acabasse.
Voltamos pra casa e a vida tomou um rumo de normalidade. Nas poucas horas em casa bebemos café 3 vezes (e isso foi maravilhoso. Durante todo seu tempo fora só tive coragem de fazer café uma vez). Conversamos. Até trocamos meios sorrisos. Conversamos mais... Fiz comida... Vimos série... Bebemos vinho... Comemos chocolate...

E resolvemos arrumar o quarto da ogrinha...
Tudo ia bem até...
(volte para o início)

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