Elizabeth

Elizabeth

Kronista

Ele caminhava a passos pesados na neve caída. Seu pequeno e robusto corpo era adaptado aos extremos, o frio pouco o importava. Caminhava obstinado até seu objetivo, com o semblante sério e alegria contida em seu coração. Não tardou para que avistasse um ponto colorido pousando na imensidão gélida e, em seguida, apertasse o passo. A alegria que carregava consigo se transformou em uma ansiedade embebida em preocupação. Ele alcançou o ponto, que na aproximação se mostrou ser uma silhueta, um corpo, uma mulher caída.

"Por Berronar, o que faz aqui...?", perguntou à mulher desfalecida enquanto a tomava em seus braços.

Sua pele era clara, seus cabelos eram como o ouro que vertia das rochas e ela trajava trapos rasgados e cicatrizes no corpo que denotavam uma vida de lutas constantes. Seu corpo estava gelado sendo vencido pelo frio. Ele, então, mediu o pulso da caída e averiguou se havia fôlego ali. Ela estava viva.

"Quem... É... Você?", perguntou consumindo parte do que restava de suas forças.

"Você está viva! Sou Thorin, por favor, não se esforce, eu a tirarei daqui!"

A consciência da mulher vacilou enquanto o anão a colocava em seus ombros, levando-a da melhor forma que conseguia para longe dali, para um lugar seguro.

-x-

Seus olhos abriram lentamente enquanto sua visão embaçada revelava uma casa pequena, quente e aconchegante. Seu olhar se estabeleceu em uma bela figura esculpida de uma figura feminina, portando consigo um escudo com anéis encravados na armadura. Ela começou a se levantar e, logo, Thorin correu até o quarto.

"Você está bem?"

"Onde eu estou...?"

"Você está em Ariad. Eu te encontrei caída nos arredores nevados. Graças a deusa consegui chegar a tempo."

A mulher olhou em volta curiosa e confusa, como se tentasse buscar alguma coisa.

"Como se chama, senhorita?"

"Eu não me lembro."

Thorin coçou a cabeça com preocupação. Ouviu o estômago da mulher roncar e se levantou fazendo menção para que ela o acompanhasse.

"Bem, por hora podemos te chamar de Elizabeth. Vejo que está com fome, venha comigo."

Ela o encarou e sorriu, o seguindo para a cozinha da casa diminuta.

"É um nome bonito.", disse com candura.

Elizabeth

-x-

Os dias passaram enquanto Elizabeth conhecia o cotidiano da animada Ariad. Ela viria a descobrir, depois, que Thorin era um dos fornecedores de alimentos e que, na ocasião de seu resgate, ele buscava suprimentos em seu armazém nos arredores da cidade. A loira perguntava sobre tudo que podia, sempre alegre em conhecer e em participar das festividades tão comuns da cidade. Seu sorriso doce era capaz de desconcertar até mesmo a severidade do pequeno anão.

"Você parece um tolo encarando aquela humana!", disse Brayden, logo antes de emitir uma larga risada, que ecoou pelo salão.

"Você é ridículo, Brayden.", respondeu Thorin a seu amigo, logo antes de voltar a olhar hipnotizado para a dança que Elizabeth realizava no centro do salão a festejar.

"Talvez devesse dizer o que sente de verdade, meu amigo.", Sugeriu Rufus. "É muito melhor para a alma quando somos honestos com nossos sentimentos."

"Eu já me cansei desse papo! Vou buscar mais cerveja.", disse envergonhado, enquanto se levantava.

"Você é um bunda mole!", gritou Brayden, emitindo uma sonora e alcoolizada risada.

Em sua trajetória até a bebida, Thorin foi capturado pelo braço por Elizabeth.

"Vamos, dance comigo!"

"E-eu não sou um bom dançarino."

"Ora, deixe disso, vamos!"

E seguiram rodopiando pelo salão ao som das flautas, tambores e vozes daqueles que ali comemoravam o simples ato de viver. A risada de Elizabeth iluminava o semblante de Thorin, que em poucos instantes se esquecia de que não sabia dançar. De fato isso não importava mais do que a mera presença da moça ali.

"Como é belo o amor!", suspirava Rufus.

"Você só está é querendo casar os dois, seu padre cretino!", respondeu Brayden.

"Mas uma coisa não exclui a outra, meu amigo! Brindemos àquela capaz de arrancar um sorriso de nosso Thorin!"

Thorin

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Estações se passaram e, uma vez mais, a neve se intensificou. A porta de Thorin se bateu e foi prontamente atendida pelo anão.

"Thorin, o que o aflige?", disse Rufus.

"Foram os sonhos de novo. Por favor, entre. Acredito que dessa vez foram mais intensos do que o normal.", disse em uma expressão dura e preocupada.

O clérigo entrou na casa e seguiu seu amigo até um aposento interior. Nele, Elizabeth encarava a janela, observando o cair na neve, portando em suas mãos uma fumegante caneca de chocolate. Rufus se aproximou e foi recebido por um largo sorriso de Elizabeth.

"Rufus, boa noite! Como vai a vida?"

"Vou bem, minha amiga. Vim a pedido de Thorin, o que lhe acomete?"

"Foram... As imagens. Eu já disse para o Thorin não se preocupar, mas ele disse que eu gritava enquanto dormia, então acho que preciso fazer algo a respeito pelo bem do sono dele.", disse rindo.

"Elizabeth, isso é sério.", disse Thorin. "Não ligo para meu sono, existe algo errado contigo e eu estou..."

Thorin raciocinou por uma fração de segundos no que diria. Se preocupava em soar estranho, mas abriu mão de seu orgulho e de sua prudência.

"Eu estou preocupado com você. Não quero que nada de mal lhe aconteça."

Elizabeth emitiu uma expressão afetuosa.

"Que bonito, você nunca me disse isso."

Thorin se virou e rumou para cozinha resmungando para que seu amigo desse conta do que quer que acontecia com Elizabeth.

"Bem... Cá estamos, querida Elizabeth. Eu preciso que me diga do que se lembra, tentarei ajudar na medida do possível."

"Certo.", disse antes de uma breve pausa para pensar, retomando em poucos instantes. "São imagens um tanto sombrias, eu me vejo entre nuvens, e então vejo sombras me cercando, penas negras se recaindo sobre mim e então... Clarões, sangues, gritos e eu grito... Malphas."

Rufus fez uma expressão mista entre surpresa e apreensão.

"Mas esse é o nome de um anjo caído...!"

Elizabeth o observou confusa.

"Talvez esteja tendo premonições, ou talvez esteja sendo afligida por alguma maldição... Precisamos agir agora!"

"Minha nossa, isso é grave?!", disse Elizabeth embalada pela preocupação do clérigo.

"Eu não sei... Mas por favor, mantenha a calma."

Rufus, então, iniciou o processo de oração, realizando um ritual divino que canalizaria as energias de sua deusa. Elizabeth manteve-se quieta, observando com cuidado aos ritos de seu amigo até que sentiu algo dentro de si queimar, um comichão em sua cabeça que lentamente se transformou em uma dor excruciante que a fez gritar em reflexo. Thorin largou todas as suas panelas e foi correndo até o quarto, abrindo a porta e protegendo, em reflexo, seu rosto, da forte luz que emanava de dentro do recinto. A radiância lentamente se esvaiu até se tornar observável e o anão arregalou os olhos em descrédito. Elizabeth pairava no ar, com seus olhos brilhando como dois pequenos sóis. De suas costas delicadas saltavam duas grandes asas douradas. A loira, então, pousou e sua forma angelical se desfez. Elizabeth cambaleou e Thorin correu para segurá-la.

"Eu... Eu me lembrei...", disse consternada.

"Elizabeth, o que foi isso...?"

"E-eu.... Eu sou Ariel. E Malphas está a solta!"

Rufus

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Os quatro se juntaram em frente à casa de Thorin. Brayden o encarava com um sorriso largo enquanto Rufus olhava para seus amigos como um irmão mais velho, atento para eventuais problemas. Thorin os aguardava com sua costumeira severidade e Elizabeth sorria de empolgação.

"Lady Ariel", disse Rufus se ajoelhando, "Estamos prontos para servi-la."

"Por favor, me chame de Elizabeth! Eu me sinto mais à vontade dessa forma. E sem formalidades, somos todos amigos aqui!"

"É, seu bobão! Ela ainda é nossa Elizabeth!", disse Brayden. "Não é mesmo, Thorin?"

Thorin resmungou qualquer coisa inaudível enquanto Brayden emitiu uma larga gargalhada.

"Senhores... Senhorita! Todos prontos para partir? Será um prazer conduzi-los pelo gelo.", disse Brayden em uma reverência exagerada.

"Você fala demais, tolo! Vamos logo ao nosso objetivo.", respondeu Thorin.

"É por isso que não é popular com as mulheres, Thorin! Você é direto ao ponto demais."

"Que estupidez."

E então, eles partiram gelo a dentro, buscando auxiliar Ariel com sua missão. Brayden os guiou com afinco e maestria, viajando pelas montanhas nevadas como nenhum outro seria capaz. Enquanto singravam as distâncias, eles enfrentaram bestas selvagens, criaturas desmortas e salteadores implacáveis. Rufus empunhava seu martelo e escudo, curando em nome de sua senhora, enquanto Thorin empunhava sua grande lâmina com precisão. Brayden se fazia ouvido com um par de machados, um em cada mão e Elizabeth combatia com uma espada longa, que brandia em nome do firmamento, trazendo a luz para os locais onde as trevas ousavam reinar.

"Então... Você é um anjo?", disse Brayden, sentado próximo da fogueira, apreciando o calor e o agradável cheiro de refeição sendo preparada por Thorin.

"Bem, eu poderia dar rodeios ou coisas assim, mas a verdade é essa. Só que... É curioso. Minhas memórias enquanto 'mortal' se mesclam com minhas memórias celestiais... Eu não acho que seja a mesma pessoa que fui um dia. Ariel, o anjo da compaixão parece algo tão distante agora...", disse pensativa.

"Hmm, certo, então você é imortal.", concluiu Brayden.

"Imortal não seria a palavra correta, mas digamos que morrer não é algo tão simples para mim."

"Pois o Rufus não precisa te curar mais! Dessa forma seremos imbatíveis!", disse rindo o patrulheiro.

"Não se atreva a fazer isso.", disse Thorin com seriedade evidente na voz.

"Eu jamais faria isso, meu amigo. Isso é ideia errada do Brayden."

"Você leva as coisas a sério demais, Thorin!", disse Brayden.

"Não se preocupem! Enfrentar Malphas é minha missão! E quando essa jornada acabar, iremos para casa."

"E brindaremos com toda certeza!", exclamou Rufus, sendo acompanhado por vivas de Brayden.

Os olhares de Elizabeth e Thorin se cruzaram. Eles sorriram um para o outro, confessando pelo olhar que se amavam. Elizabeth riu, porém Thorin fugiu daquele momento, temendo se perder para sempre na imensidão dourada dos olhos de Elizabeth. Ela, como celestial, vira muito, lutara por mais tempo do que qualquer mortal ousava caminhar pela terra. Ali, naquele instante, no entanto, ela sentiu que valia a pena envelhecer ao lado de alguém. Aquela noite se seguiu e a viagem retomou. Havia uma missão a ser cumprida e Brayden retomou a expedição.

Eles caminharam por mais milhas e milhas até encontrarem a boca de uma caverna escura, abrindo caminho montanha a dentro. Brayden sorriu de nervosismo, encarando o olhar da celestial.

"Eu sinto que está aqui. A entrada para outro reino. Uma fissura na realidade. Um portal para o inferno. Se existe alguma possibilidade de desistir, esse é o momento, passarinho."

Elizabeth sorriu para Brayden enquanto Rufus o tocou no ombro.

"Está tudo bem ter medo, meu amigo.", disse o clérigo.

"Eu não estou com medo, você está com medo!", respondeu.

"Homens! Não importa se há medo. Temos uma missão a cumprir. Devemos proteger Elizabeth. Dependemos um do outro. Vamos seguir, em nome de Ariel e em nome de Berronar."

Elizabeth olhou para eles em agradecimento e seguiu para a caverna, inferno a dentro. Seus companheiros a seguiram logo atrás. Malphas seria caçado.

Brayden

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Um clangor metálico foi ouvido. Thorin foi brutalmente arremessado em uma das paredes do castelo, sentindo sua visão turvar e gosto de sangue na boca. Ouviu um grito distante, abafado pela própria respiração e pelo som de seus batimentos acelerados. Em instantes aquele clamor distante se converteu na voz desesperada de Rufus que o chamava. Ele se levantou com esforço, empunhando uma vez mais sua lâmina e encarando seus companheiros. Rufus brandia seu martelo, erguendo seu escudo em proteção a Brayden, que combatia uma horda de diabos com seus machados, ferido por toda parte.

O guerreiro, então, olhou para uma posição mais distante, próxima ao trono daquela sala real mefistofélica. As asas de Ariel brilhavam enquanto a celestial enfrentava a figura sombria e torpe de Malphas, que gargalhava. Eles se enfrentavam em uma batalha aérea, trocando ataques e disparos de magia divina, numa velocidade sobre-humana. Thorin dizia que protegeria Elizabeth, mas ali, se deparando com aquela situação, se sentiu fraco, impotente. O poder de Ariel era retumbante e a grande verdade ali era que Elizabeth os protegia, não o contrário. Cabia a eles não permitir que as hostes infernais interferissem no confronto da celestial.

Thorin emitiu o grito gutural e partiu ao encontro daquelas criaturas. Com um encontrão derrubou um diabo e com um movimento de corpo girou sua espada ferindo um pequeno grupo de corruptores em um só golpe. Sua guarda aberta o deixou exposto e um ataque certeiro em seu ombro foi interceptado pelo escudo diligente de Rufus. Brayden apontou com um de seus machados para uma criatura e uma marca se fez aparente em seu tronco. Ele partiu ao encontro dela, desferindo golpes potentes que a dilaceraram. Em poucos instantes, mais e mais corruptores se aproximaram e os anões se viram ali cercados.

Elizabeth voava em trajetória circular enquanto Malphas a perseguia pela vasta sala do trono, disparando raios de sombra na celestial. O caído, então, fez nascer uma lâmina dupla de sombras e a arremessou prevendo o caminho de Elizabeth, forçando-a a defletir a arma com sua espada. Ela foi jogada para trás com o impacto, enquanto Malphas venceu terreno rapidamente em sua direção, agarrando suas lâminas duplas pelo caminho, que retornavam com um grande bumerangue. O caído girou no ar em um ataque poderoso contra Elizabeth, que aparou da melhor forma que pôde. Ariel desferiu cortes rápidos que foram defletidos e aproveitou o momento para desferir um corte poderoso na barriga de Malphas, que jogou para longe suas lâminas duplas. Os anjos despencaram no chão daquele salão, Ariel por cima, Malphas por baixo. A celestial armou um golpe final, prestes a cravar sua lâmina no peito daquela criatura.

Malphas


Então a arma lançada por Malphas retornou em direção ao seu dono, acertando e ficando encravada no tórax de Elizabeth. A celestial arregalou os olhos, enquanto seus joelhos vacilavam. Malphas deu uma gargalhada que ecoou por todo o salão, se sobressaindo sobre todo o barulho de combate que se instaurava ali.

A batalha entre os diabos e os anões era intensa. Ali cercados, eles se sentiam sobrepujados em número, enquanto a cada instante mais ataques inimigos encaixavam. Os ferimentos de Brayden se multiplicavam, mesmo com os esforços de Rufus para mantê-los são. Thorin se sentia no limiar de perder a consciência, concentrando-se na dor de seus ferimentos para se manter desperto. Rufus fez surgir uma arma espiritual, um martelo que flutuava e atacava impiedosamente os corruptores, sentindo a fadiga dos ataques inimigos queimando em seus músculos como gelo em pele nua. Thorin retomou o fôlego, buscando uma força que não sabia que possuía, e dilacerou o braço de um diabo, perfurou a traqueia de outro e se jogou com sua lâmina contra um terceiro, acertando seu abdome e caindo no mármore negro daquele salão infernal.

Os corruptores, vendo o guerreiro caído, o cercaram, espetando com seus bidentes e chutando sem piedade Thorin, que resistia rangendo os dentes, sustentando a dor. Brayden gritou por seu amigo e, como um borrão de luz, se transportou para próximo de Thorin, desferindo um turbilhão de ataques, girando seu corpo e fatiando seus oponentes com seus machados em punho. Mal tempo teve para respirar e sentiu uma dor lacinante originária de sua barriga. O patrulheiro olhou para baixo e viu seu abdome perfurado, sentindo o ímpeto de seu corpo o abandonar. Rufus correu até seus aliados com o escudo em riste, abdicando de seu martelo para que pudesse se concentrar em os proteger.

Nesse momento, a risada hedionda de Malphas se fez ecoar para os três anões, que viram sua amiga caída, com uma lâmina de sombras saltada de seu peito angelical. O caído se levantou, dando a volta até as costas de Elizabeth, ajoelhada e sem forças, encarando a poça do próprio sangue que antes banhava o peito de seu rival e agora tingia o negro piso do palácio sombrio. Malphas segurou o cabo de sua arma e a puxou, tornando pior o sangramento e se preparando para uma decapitação limpa de alguém que há milênios era um problema.

Thorin, movido pelo desespero, se levantou correndo, portando sua espada leal, em um ataque completamente descuidado contra o anjo negro. O guerreiro, então, saltou e golpeou o caído, que sentiu a lâmina tocar sua pele e achou graça do ataque. Malphas sorriu e agarrou pelo pescoço o anão, o erguendo do chão, enquanto sua vítima esperneava.

"Que tal acabar com você primeiro antes de Ariel? Para que ela possa degustar do sofrimento que tanto merece!"

Thorin arfou, tentando respirar. Seus pulmões lutavam contra o aperto daquela criatura e desafiando o jugo daquele ser ele gritou.

"Elizabeth!"

Elizabeth viu o reflexo do sofrimento de Thorin em seu sangue caído. Seu corpo brilhou suas asas se levantaram, suas penas se espalharam por todo lugar. Subitamente, as trevas daquele lugar foram completamente ofuscadas pela luz daquela mulher, que se ergueu apoiando em sua espada.

Rufus orou para Berronar, rogando para que mandasse seu apoio incondicional. Ao seu lado, anjos de sua senhora se formaram, portando escudos e martelos, prontos para auxiliar aqueles que amassem a vida e protegessem a luz. Um a um, aqueles diabos foram combatidos pelos martelos íntegros dos anjos, que atacavam cantando um coro para a mãe de todos os anões, a senhora da hospitalidade e do renovo. Brayden foi tocado por seu amigo clérigo e sentiu sua vitalidade ser restituída, se armando, uma vez mais, de seus machados e partindo ao encontro de seus opositores, acompanhando o balé marcial dos anjos de Berronar.

A expressão triunfante de Malphas se retorceu em um horror genuíno mesclado de uma surpresa evidente. Em um movimento de espada, Elizabeth decepou o braço que afligia Thorin, fazendo seu opositor dar um grito incrédulo. O guerreiro caiu tossindo e, em seguida, encarando as costas perfuradas de Elizabeth, que abria suas asas em sua glória máxima. Malphas fez as sombras se moldarem em um braço obsidiana e desferiu vários golpes frontais com sua lâmina dupla. Os ataques não foram nem mesmo capazes de perfurar a aura de Elizabeth, que apenas balançou a cabeça negativamente em pena.

"Isso é impossível, eu te acertei!"

"Você não entende, Malphas. Eu mesmo, por todas essas eras, nunca entendi, mas agora eu entendo. Nada nesse mundo é maior do que o amor por alguém."

"A-absurdo!"

O anjo caído partiu em um ataque potente, usando todas as forças restantes para concentrar em um único golpe. Elizabeth, foi ao encontro de seu rival, partindo com sua arma a lâmina de seu opositor e, em seguida, desferindo um poderoso ataque, de baixo para cima. Malphas foi partido ao meio, cada parte grotescamente escorregando para um lado. A celestial, então, caiu. Contudo, ela não o fez como Ariel, mas como Elizabeth, sem asas, sem brilho, apenas um sorriso no rosto, deitada nos braços de Thorin.

-x-

Elizabeth e Thorin se encaravam uma vez mais sobre a neve das montanhas geladas do norte. A celestial estava mortalmente ferida, uma ferida necrosada em seu peito que nem mesmo a magia divina de Rufus poderia curar. Brayden chorava copiosamente, implorando para que Rufus fizesse alguma coisa, enquanto Rufus estava em negação, sabendo que não conseguiria, mas ainda assim tentando alguma cura. Thorin a sustentava no colo, observando seu belo rosto que mesmo nessa situação sorria com ternura.

"Tho...Rin..."

"Elizabeth, por favor não diga nada... Rufus vai te curar, vamos voltar para casa..."

"Não... Dá..."

"Não diga isso, por favor, eu lhe imploro. Vamos voltar pra casa, eu preciso de você, eu... Eu te amo."

Os olhos de Elizabeth se encheram de lágrimas. Ela tocou o rosto de Thorin.

"Que... Coincidência... Eu também te..."

A mão de Elizabeth vacilou. Sua fala parou, o hálito não saía. Não havia mais vida ali. Brayden se ajoelhou enquanto desabava em um choro, agora acompanhado por Rufus que o abraçava. Thorin acariciou o rosto de Elizabeth, chorando enquanto sorria. O corpo daquela mulher, então, começou a emitir uma fraca luz que se tornou mais e mais intensa. Suas roupas arrearam, como se ela tivesse evaporado e Thorin sentiu o peso daquele corpo diminuir. Um forte choro infantil se fez ouvir naquela nevasca. O guerreiro abraçou aquele bebê, confuso. Rufus subitamente entendeu a complexidade da morte sobre a qual Elizabeth uma vez comentara. Ele tomou para si aquela criança e encarou rindo e em prantos seus amigos.

"É um garoto! Vamos cuidar dele pela Elizabeth!"

"Pela Elizabeth!", respondeu Brayden.

Thorin observou aquela criança e sorriu.

"Seu nome será Salathyel."


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