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Trata.se de um romance adoravelmente comovente, este “Há sempre um Amanhã” – tradução portuguesa do título original “The Time is Noon” – escrito pela americana Pearl S. Buck, agraciada com o Prémio Nobel da Literatura em 1938 e que nos remete para uma narrativa onde as questões sociais e morais como o casamento, a comunidade religiosa de uma pequena aldeia no interior dos EUA, como lidamos com a morte de entes queridos, com a frustração de um amor perdido, com o nascimento de filhos com deficiências profundas, ou seja como resistimos e tentamos superar todas as dores, desgostos e angústias que a vida, na sua implacabilidade, nos atinge. Mas é também uma história de resiliência, de otimismo e tolerância que nos recorda a solidez e a força do caráter no momento em que mais precisamos. Pese embora o facto de a autora ter colocado o desenvolvimento da ação nos anos 60 do século XX, num meio pequeno, tem ainda, fortes ligações com situações idênticas mas nossas contemporâneas pelo que a história possui um sinal de intemporalidade bastante evidente. Joan Richards, a personagem principal, tinha, à partida, tudo para que a vida lhe sorrisse: uma infância feliz, uma família unida, composta pelos progenitores e dois irmãos mais novos (Francis e Rose), uma experiência universitária de quatro anos e sonhos, muitos sonhos próprios das jovens americanas, e não só, coevas, que viam num matrimónio, nos filhos e numa casa os objetivos a alcançar, todos eles sinónimos de uma necessária, urgente e definitiva felicidade. Confesso que, como nunca partilhei de objetivos semelhantes, me senti algo irritadiça mas também não me deixei influenciar pela minha perspetiva e entendi que a história se centrava numa época em que os desejos seriam no mínimo e a meu ver, ingénuos e questionáveis, mas sinceros, viáveis traduzindo o que seria expectável de uma mulher naquela época. Mas Joan não se revelaria como uma mulher protótipo que assimilaria com docilidade a tradição. Muito embora ter casado com um homem cujo temperamento, formação, condição social características essas que se encontravam nos antípodas daquilo que talvez merecesse apenas para sentir a segurança de um lar, para combater o receio da solidão, ter alguém com quem constituísse família por mais repugnante que esse alguém pudesse parecer como, de facto, se viria a mostrar – e aqui outra vez sentia-me separada das intenções da autora até e de certo modo ofendida, tendo mais uma vez que me reposicionar na época -, Joan Richards revelara-se aquilo que sempre fora: uma força da natureza! Não irei alongar-me muito mais pois tudo o que possa dizer daqui para a frente poderá retirar o véu desta bela história, o que não desejaria, cuja mensagem é maravilhosa! Apenas, poderei reforçar a ideia de como os desgostos, a dor, o sofrimento podem metamorfosear-nos, transformarmo-nos e até mesmo reestruturamo-nos. Mas também não quero concluir esta review sem antes abordar uma ou duas ideias que também me pareceram importantes e que exemplificam a profunda atualidade desta obra: a primeira, prende-se com o facto de mulheres fortes serem constantemente ostracizadas quando comparadas com outras possuidoras de uma maior fragilidade. “”Que pena – disse secamente – que pena as mulheres não nascerem todas pequenas, bonitas e fracas! As mulheres não precisavam de mais nada senão de mãoszinhas e caras bonitas, de corpos delicados e esguios”. São essas mulheres que a autora designa por gazelas. Mas também existem aquelas que, portadoras de uma força incomensurável, que se veem obrigadas a um maior compadecimento. “E deve o leão sofrer porque é leão? – perguntou irada a Roger – Sofre mais porque é mais forte também para sofrer … “ Depois a constatação, algo absolutamente próprio de quem se resigna mas que não evita a sua própria sensibilidade. “Estou muito habituada aos desgostos mas nem por isso deixarei de sofrer”. É verdade, posso assegurar!! Este livro, falou-me particularmente à alma pois muitos dos constrangimentos vividos por Joan também eles me atingiram. E talvez por isso, naquilo que está de acordo com o meu modo de ser, identifique-me com ela, com a sua determinação, com a sua resiliência e o seu otimismo. Pois, para quem tudo perdeu mas que continua a viver carregada de esperança e objetivos que dão razão à existência “… não precisava de se apressar. Era apenas meio-dia”.A prosa, simples e direta, não é nada exuberante … mas também não precisaria de ser.Recomendo! Pela mensagem que nos transmite!
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