Língua árabe – Wikipédia, a enciclopédia livre

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Árabe clássico, moderno e falado

Língua e dialeto

A situação sociolinguística do árabe na atualidade apresenta um exemplo primordial do fenômeno linguístico da diglossia, que consiste na utilização normal de suas variantes separadas do mesmo idioma, geralmente em diferentes situações sociais. No caso do árabe, presume-se que árabes educados de qualquer nacionalidade saibam falar tanto o seu dialeto local quanto o árabe padrão que lhes foi ensinado na escola. Quando árabes educados de diferentes dialetos iniciam uma conversa (por exemplo, um marroquino falando com um libanês), diversos falantes alternam o código entre as variedades dialetais e padrão do idioma, por vezes até mesmo dentro da mesma frase. Falantes do árabe frequentemente melhoram sua familiaridade com outros dialetos através da música ou do cinema.

A questão do árabe ser um idioma ou diversos tem grande carga política, semelhante ao que ocorre com o chinês, hindi e urdu, sérvio e croata, e assim por diante. A diglossia entre o idioma falado e escrito é outro fator significativo que complica a questão; uma única forma escrita, significativamente diferente de qualquer uma das variantes faladas aprendidas de forma nativa, reúne diversos formas faladas que seriam, de outra maneira, divergentes. Por motivos políticos, os árabes costumam afirmar que falam todos um único idioma, apesar de significativos problemas de incompreensibilidade mútua entre as diversas versões orais.

De um ponto de vista linguístico, costuma-se dizer que as diversas versões faladas do árabe diferem entre si coletivamente tanto quanto as línguas românicas entre si. Esta é uma comparação que faz sentido sob diversos aspectos: o período de divergência a partir de uma única forma oral é semelhante - talvez cerca de 1500 anos para o árabe, e 2000 para os idiomas românicos. Da mesma maneira, uma variedade inovadora linguisticamente, como o árabe marroquino, é essencialmente incompreensível a todos os não marroquinos (com a exceção dos tunisianos), da mesma maneira que o francês é incompreensível para falantes do espanhol e do italiano. Existe, no entanto, alguma compreensibilidade mútua entre as variantes mais conservadoras do árabe, ainda que separadas por grandes distâncias geográficas, do mesmo modo como existe alguma compreensibilidade mútua entre o espanhol e o italiano (ambas variedades conservadoras do românico). Isto sugeriria que as variantes orais, pelo menos, devem ser classificadas linguisticamente como idiomas separados - e é isto o que algumas fontes, como o Ethnologue, tentam fazer.

Por outro lado, uma diferença significativa entre o árabe e as línguas românicas é a de que estas também apresentam um grande número de diferentes variantes escritas padrão, cada uma das quais se relaciona de diferentes maneiras às suas respectivas variantes orais, enquanto todas as variantes orais árabes partilham uma única língua escrita. Uma situação semelhante nas línguas românicas ocorre no caso do italiano: enquanto diversas de suas variantes orais, como o milanês, o napolitano e siciliano (entre outros) são diferentes o bastante para não terem compreensibilidade mútua, todos partilham uma única forma escrita (o italiano padrão), e portanto são por vezes chamados pelos próprios italianos de dialetos do mesmo idioma.

Características

Distribuição geográfica

Dialetos

Alfabeto

Artigo principal: Alfabeto árabe

O alfabeto árabe deriva da escrita aramaica (existe uma polémica, a nível académico, sobre sua origem, nabateia ou siríaca), de modo que pode ser comparado às semelhanças entre o Alfabeto copta ou o alfabeto cirílico e o alfabeto grego. Tradicionalmente, existem algumas diferenças entre as versões ocidentais (magrebinas) e orientais desse alfabeto. Nomeadamente, no Magrebe, o fa e o qaf têm um ponto em baixo e em cima, respectivamente. A ordem das letras é também sensivelmente diferente (pelo menos quando são utilizadas como numerais). Contudo, a variante do norte de África tem sido abandonada excepto para uso caligráfico no próprio Magrebe, mantendo-se nas escolas corânicas (zauiass) da África ocidental. O árabe, tal como o hebraico e o aramaico é escrito da direita para a esquerda.

Alfabeto árabe: Letra Padrão Nome

SAMPA Transliteração Br

[11]

[12]ا âlef
âlif a ā ب bâ ba:? b b ت tâ ta:? t t ث thâ Ta:? T ṯ ج jîm dZi:m dZ j ح h.â X\a:? X\ ḥ خ khaa xa:? x ḫ د dâl da:l d d ذ thâl Da:l D ḏ ر r'aa
ra:? r r ز zai
za:j z z س si'n
si:n s s ش shîn Si:n S š ص s'aad
s_ea:d s_e ṣ ض d'aad
d_ea:d d_e ḍ ط t'â t_ea:? t_e ṭ ظ D'â D_ea:? D_e đ ع 'ayn
?\ajn ?\ ᶜ غ ghaîn Gajn G ġ ف faa
fa:? f f ق qâf
qa:f q q ك kâf ka:f k k ل lâm la:m l l م mîm mi:m m m ن nuun
nu:n n n ه hâ ha:? h h و waau
wa:w w ū/w ى yâ ia:? i ī ء (hâmeza) hâmeza ?¹ ’

  1. o hâmeza ocorre normalmente como um pequeno acento sobre ا, و, ou ى. Há ainda duas variantes, cada uma usada em contextos espaciais: ٱ , آ.

Caracteres especiais árabes:

Variantes mais comuns: ى

âlif maksura; variante de sufixo de ا; tem o valor de ى noutras situações ﻻ ligação entre ل e ا ة

tâ? marbuta; normalmente terminação feminina /at/, mas o /t/ é omitido, exceto em casos especiais; muda para ت quando sufixos são adicionados. ّ

xadda; marca a geminação de uma consoante; kasra (ver abaixo) faz a transição entre shadda e a consoante geminada, quando presente; não é usada de forma consistente nos textos modernos;

As vogais breves são apenas indicadas no Corão e nos livros de instrução de crianças. ْ

suku:n; marca uma consoante sem vogal a seguir َ

fatX\a; /a/ breve ِ

kasra; /i/ breve ُ

d'am:a; /u/ breve

Letras tanwiin: ً , ٍ , ٌ usado para produzir os sufixos /an/, /in/, e /un/ respectivamente. ً usa-se normalmente em combinação com ا ‎( اً ).

Fonologia

O árabe padrão tem apenas três vogais, com variantes breves e longas, nomeadamente /i, a, u/. Naturalmente, ocorre uma alofonia considerável.

Fonemas consoantes árabes Bilabial Inter-
dental Dental Enfático
dental (Alveo)-
Palatal Velar Uvular Farín-
gea Glotal Pausas Mudo t t' k q ? Som b d d' dZ¹ Fricativas Mudas f T s s' S x X\ h Som D z D' G ?\ Nasais m n Laterais l² Vibrante múltipla r Semi-vogais w j

  1. /dZ/ é /g/ para alguns falantes, i.e., uma oclusiva.
  2. /l/ passa a ser [l'] somente em /?alla:h/, o nome de Deus, i.e., Allah.

/'/ é usado para indicar velarização ou faringealização (=consoantes enfáticas; geralmente transcritas como consoantes pontuadas). Os outros símbolos são do SAMPA.

Nos dialectos há alguns fonemas a mais; um deles ocorre no Magrebe também na língua escrita, principalmente em nomes: /v/.

Vogais e consoantes podem ser (fonologicamente) curtas ou longas.

Gramática

Assim como as demais línguas semíticas, a gramática está baseada num sistema de raízes triconsonanticas, que possuem um sentido genérico. Por exemplo, as consoantes k t b constituem uma raiz com o sentido básico de 'escrever', q r ? expressam a ideia geral de 'ler', ? k l 'comer', e assim por diante. A posição dos movimentos e afixos é que precisa o sentido de uma palavra em particular.

A forma mais simples do verbo é o aspecto perfeito na terceira pessoa do singular masculino: kátaba 'ele escreveu', qara?a 'ele leu'. As demais pessoas formam-se a partir dessa forma:

singular/al-múfrad

  • kâtaba ele escreveu
  • kâtabat ela escreveu
  • katabta tu (masc.) escreveste
  • katabti tu (fem.) escreveste
  • katabtu eu escrevi

dual

  • katabā eles [os dois] escreveram
  • katabatā elas [as duas] escreveram
  • katabtumā vós [os/as dois/duas] escrevestes
  • katabnā nós [os/as dois/duas] escrevemos

plural

  • katabū eles escreveram
  • katabna elas escreveram
  • katabtum vós (masc.) escrevestes
  • katabtunna vós (fem.) escrevestes
  • katabnā nós escrevemos

O imperfectivo possui um tema diferente, caracterizado por prefixos e sufixos:

singular

  • yâktubu ele escreve
  • tâktubu ela escreve; tu (masc.) escreves
  • taktubīna tu (fem.) escreves
  • ?âktubu eu escrevo

dual

  • yaktubāni eles [os dois] escrevem
  • taktubāni elas [as duas] escrevem; vós [os/as dois/duas] escreveis
  • nâktubu nós [os dois] escrevemos

plural

  • yaktubūna eles escrevem
  • yaktubna elas escrevem
  • taktubūna vós (masc.) escreveis
  • taktubna vós (fem.) escreveis
  • nâktubu nós escrevemos

Os verbos derivados são variações na forma radical primária kâtaba, como kattaba, kātaba, inkataba, takattaba, etc., com os valores intensivo, reflexivo e causativo, entretanto o sentido exato varia de verbo para verbo, sendo necessária a consulta a um léxico.

Em árabe, uma palavra pode ser um nome, um verbo ou uma preposição. Não existem categorias distintas para os adjetivos, advérbios etc.; todos caem num daqueles três agrupamentos. Por exemplo, para se dizer em árabe a frase "o homem correu lentamente", deve-se dizer algo que, palavra por palavra, seria "o homem correu com lentidão" ou "o homem correu (com) uma lentidão". Semelhantemente, a palavra árabe "rápido" deve ser tratada como um nome, pelo que ela deve ser traduzida mais propriamente por "um rápido, alguém rápido" e não simplesmente pela palavra "rápido".

Esse conceito de usar substantivos e verbos para desempenhar outras funções linguísticas é diferente de outras línguas, como o inglês, em que normalmente existem palavras específicas para preencher essas funções. Observe, contudo, que em inglês esse método é algumas vezes usado com relação a adjetivos, como na expressão "the city hall", "the town meeting", em que as palavras "city" e "town", que são gramaticalmente substantivos, estão sendo empregadas na função de um adjetivo, qualificando as palavras "hall" e "meeting", respectivamente.

Além dessas regras, há diversas outras regras gramaticais e literárias que ditam tais coisas como que posição na frase é mais apropriado para determinada palavra, regras gramaticais avançadas, morfologia da palavra, etc. Essas regras são conhecidas colectivamente em árabe como al-naħu (árabe: النحو), que significa "a orientação", e é vista como a ciência que define a orientação adequada da língua árabe.

Tal como outras línguas semíticas, também o árabe possui o número gramatical dual.

Caligrafia

Ver artigo principal:

caligrafia árabe

Depois da fixação definitiva da escrita árabe ao redor do ano 786, por Khalil ibn Áhmad al-Farahidi, muitos estilos desenvolveram-se, tanto para a escrita do Corão e outros livros, quanto para inscrições em monumentos, como decoração. A Caligrafia Árabe não parou de ser importante, no mundo ocidental, e ainda é considerada pelos árabes como uma forma de arte mais importantes; calígrafos são considerados de grande valor. É cursiva por natureza, ao contrário do Alfabeto Latim, a escrita árabe é usada para escrever um verso do Alcorão, uma Hadith, ou simplesmente um provérbio, em uma composição espetacular que é muitas vezes indecifrável. A composição é muitas vezes abstrata, mas às vezes a escrita é moldada em uma forma concreta como a de um animal. Um dos mestres atuais do gênero é Hassan Massoudy

Ver também

Referências

Bibliografia

  • Procházka, S. (2006). «"Arabic"». Encyclopedia of Language and Linguistics 2ª ed. [S.l.: s.n.]
  • Versteegh, Kees (1997). The Arabic Language. [S.l.]: Edinburgh University Press. ISBN 9004177027
  • Diccionario de Árabe Culto Moderno. Árabe-Español (1996). Julio Cortés.
  • Nova Gramática do Português Contemporâneo / Celso Ferreira da Cunha, Luis Filipe Lindley Cintra - 7. ed. - Rio de Janeiro: Lexikon, 2016.

Ligações externas

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