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— Estou triste, cara. Angustiado com a vida.

— Eu não entendo bem o porquê, Luiz. Você tem um bom emprego, tem uma namorada bonita e dedicada, a Luana. Tem amigos, viaja todo o ano. Às vezes eu não te entendo, cara. Sinceramente.

— Eu sei, eu sei. Você acha que às vezes não me sinto bem, não me sinto feliz? Amo a Luana, e apesar de meu emprego ser chato, ganho bem. Essa parte de mim gosta das viagens, dos meus amigos, da minha situação. Nessas horas eu me sinto o máximo.

— Então?

— Então que existe um outro lado, o que enxerga a vida absurda, sem sentido, desprovida de encantos, um universo fechado. Não me sinto bem adapatado a nada, o que me rodeia não é o que eu realmente amo, e o que eu amo não sei bem o que é. Ando assim, caminhando pela rua e pensando em tudo isso, porque isso não encaixa, não está direito.

— E a Luana, o que acha disso?

— Eu amo ela, mas ela não me acompanha, para ser sincero penso até em terminar, porque quero ficar só, me isolar de todos e dizer adeus.

— Você quer se matar?

— Não, idiota, só quero ficar só.

— Am, acho que compreendo.

Os dois amigos, sentados na mesa do restaurante, conversam um pouco mais, sobre coisas aleatórias. Luiz, conversa sem conversar, sem estar atento ao que lhe acontece, enquanto que Marcelo é inerme, e não atina com as necessidades do amigo. Depois de um mês, os amigos e colegas de Luiz começam a cochichar que ele estaria muito estranho, vivendo no mundo da lua, avoado, cabisbaixo, seria uma amante? Alguém de sua família que morrera? Não, não era nada disso. Mas ele disfarçava sempre que perguntavam, evasivo, fazendo alguma piada com a qual se riam, e ninguém voltava a falar no assunto.

Certo dia, Luiz deixa uma carta para Luana, uma carta para seu chefe, dizendo que estava de partida, que iria mudar de vida e deixar o país, iria perseguir algo que "o completasse", como disse.

Nosso amigo partiu para a Bolívia, passou lá não mais que dois anos. E quando volta, Luana está casada com o Marcelo, os dois vivem mais felizes do que ninguém; Marcelo indaga se ele sente alguma raiva do amigo por ter tomado sua namorada. É claro que não. Luiz está um tanto diferente, calado, ensimesmado, bem vestido, outra pessoa.

— E você, vive bem? — Indaga Luiz ao Marcelo.

— Supinamente! Mas e você, descobriu o que queria, encontrou o que lhe completasse?

— Aprendi sobre a vida simples, passei por muitas situações e vive em dois o que se vive em dez. Mas o melhor de tudo foi ter conhecido um velho poeta que me ensinou bastante coisa.

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